CATANDO BASCUI
(Lília Diniz)
Habita em mim
a singela casa
da minha infância
Na fartura do quintal
o limoeiro traquino
florido sempre
adoçando meus ouvidos
com os cantares diários
do passaredo em festança
O velho sabugueiro
perfuma abril em flores
curando febres
estouradas em cataporas
e alucinações
em labaredas
O telhado de cavacos
pesa sobre o tempo
que insiste não passar
Lamparinas atrepadas
nas paredes de taipa
incandeiam a imensidão
dos meus olhos meninos
Sala
quarto
cozinha
abrigam o quase nada de mim
Mas é lá no terreiro
barrido todo amanhecer
pelas cuidadosas mãos de meu pai
que brinco de catar
restos de sonhos e lembranças
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