segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CATANDO BASCUI
(Lília Diniz)


Habita em mim
a singela casa
da minha infância

Na fartura do quintal
o limoeiro traquino
florido sempre
adoçando meus ouvidos
com os cantares diários
do passaredo em festança


O velho sabugueiro
perfuma abril em flores
curando febres
estouradas em cataporas
e alucinações
em labaredas

O telhado de cavacos
pesa sobre o tempo
que insiste não passar

Lamparinas atrepadas
nas paredes de taipa
incandeiam a imensidão
dos meus olhos meninos

Sala
quarto
cozinha
abrigam o quase nada de mim

Mas é lá no terreiro
barrido todo amanhecer
pelas cuidadosas mãos de meu pai
que brinco de catar
restos de sonhos e lembranças

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