sexta-feira, 29 de março de 2013

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO
(Ângela Lugo)


Naquela quinta-feira um dos seus te deu um beijo
Não um beijo de amor... Mas de pura traição
Entregando-te aos soldados do desamor
Aqueles que te prenderam... Açoitaram-te
Ao invés de sentir por ti compaixão
Machucaram-te até fazer a tua carne sangrar
O que tu passaste naquela noite só tu o sabes
E aqueles que lá junto a ti se encontravam
E naquela sexta-feira...
Fizeram-te carregar uma cruz pela Via Sacra
Deixando teu corpo transfigurado pela dor
Caia... Levantava-se e lá caminhava
O povo simplesmente olhava nada fazia
Com os olhos amedrontados apenas te viam
Quando chegou ao teu destino já quase desfalecia
Ainda tinha a pior parte... Aquela que tu temias...
Chegaram os soldados para que te pregassem
Naquela cruz que pelo caminho carregavas
E quando os cravos começaram a serem fincados
A dor quase já não existia, já havia transpassado
Pelo tamanho do sofrimento que já havia passado
Quando terminaram nem sequer se preocuparam
Com teus gritos abafados pelo da multidão descarada
Assim a cruz com o teu corpo desfalecido foram içados
Eles não se conformaram que ainda estavas acordado
Levantaram a lança e teu coração foi perfurado
Ó quanta covardia... Mesmo assim, ainda os perdoaste.
Ó Jesus como pode ter sido tão injustiçado
Esqueceram que ali jazia o corpo do Pai amado
E também que sua glória mais forte que a...
Humanidade


domingo, 24 de março de 2013

QUANDO ELA FALA
(Machado de Assis)



Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.

Meu coração dolorido
As suas mágoas exala,
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.

Pudesse eu eternamente,
Ao lado dela, escutá-la,
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.

Minha alma, já semimorta,
Conseguira ao céu alçá-la
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala.

sexta-feira, 22 de março de 2013

TERNURA
(Vinícius de Moraes)


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

quinta-feira, 14 de março de 2013

VAMOS FAZER POESIA?

(Joésio Menezes)

Vamos, criançada,
Vamos com alegria,
Tirar versos do nada
E fazer uma poesia?

É só andar pela rua
E de cara contra o vento
Perguntar à nobre Lua
Qual a cor do firmamento.

Depois, nos jardins da vida,
Ter coragem e liberdade
De perguntar à Margarida
Qual a flor da idade.

Vamos perguntar, também,
Aos doze meses do ano
Que parentesco eles têm
Com o Tempo soberano.

E nas fronteiras do Universo
Perguntar às estrelas do Céu
Quantas palavras em verso
Cabem na folha de papel.

E se necessário for,
Perguntaremos ainda
Ao grande Criador
O que faz a Natureza linda...

Depois disso, garotada,
É só juntar a fantasia
Às respostas encontradas
E estará feita a poesia!