domingo, 27 de novembro de 2011

ESTAÇÕES DA VIDA
(Kora Lopes, da APL)

A primavera já se foi
E com ela as flores que murcharam...
O verão também já passou
E não há mais calor
Nem a alegria
Que traz essa estação.
Agarro-me ao outono,
Mas ele vai se soltando
Como as folhas mortas
Caídas pelo chão...
E aí chega o inverno
E vem o frio... a aridez...
A primavera não mais virá,
O verão tampouco.
Até o outono já vai longe
E não mais voltará para mim...
Sobrou somente o inverno,
Frio e sem vida,
Que me acompanhará até o fim!...

domingo, 20 de novembro de 2011

PRECONCEITO
(Joésio Menezes)


Que culpa tenho eu
Se tua pele é branca,
Se minh’alma é franca,
Se o preconceito é teu?

Orgulho tenho eu
Da minha negritude,
Pois essa é uma virtude
Que Deus-Pai me deu.

Que culpa eu posso ter
Se nada fiz pra merecer
De Deus tanto amor?...

Rasga do teu peito
O infame preconceito
Contra minha negra cor!


Uma singela homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

SONETO
(Alphonsus Guimaraens)

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranquilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

BALANÇO DA VIDA
(Vivaldo Bernardes de Almeida)

Os anos se sucedem implacáveis
e trazem, cada um, marco fatal
das pedras da estrada, inevitáveis,
na vida de quem chega ao final.

Final que se aproxima a ferro e fogo,
mostrando a cada um o que já fez
do amor com que nasceu pra este jogo,
pesando o bem e o mal com sensatez.

E a tela da razão nos mostrará
escrito já por nós o que faltou,
no prato que a balança indicará.

E a alma alcançará novos destinos,
cuidando de pagar o que restou
da vida que levou em desatinos.

domingo, 13 de novembro de 2011

EDUCAR A DOR
(Patrícia Ximenes)

Felizes os educadores que educam a dor.
Que fazem de uma necessidade
a oportunidade de crescerem
e evoluírem como humanos,
mostrando àqueles que precisam de mais atenção,
que a vida os considera
tão importantes quanto a todos.

Felizes os educadores que educam a dor.
Que transformam seus alunos especiais
em mais que especiais,
fazendo deles iguais em direitos,
iguais em tratamento,
com um pouco mais de cuidado,
já que também são obras de Deus.

Felizes os educadores que educam a dor.
Que fazem destas,
quando tão transparentes,
motivo de conscientização
e de exclusão de preconceitos,
pois ninguém pede ou até mesmo se enobrece
por precisar tanto de outros.

Felizes os educadores que educam a dor.
Que num passe de mágica
fazem a criança ou o adulto
ainda cheios de esperanças,
pensar que sua única diferença
é serem tão perfeitos a ponto
de todos notarem o que não é defeito.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

SER POETA
(Florbela Espanca)

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
é condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

SONETO A QUATRO MÃOS
(Vinicius de Morais)

Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.