sábado, 31 de dezembro de 2011

RECEITA DE ANO NOVO
(Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Recados para Orkut


sábado, 24 de dezembro de 2011

CORDEL AO ESPÍRITO NATALINO
(Joésio Menezes)

“Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel”
E que todos, quando morrêssemos,
Iríamos morar no Céu,
Mas como anda a humanidade
Sem o espírito de fraternidade
Será difícil esse laurel.

Será difícil, também,
Conseguirmos a Salvação,
Pois o homem, ambicioso,
Não tem Cristo no coração...
Não tem espírito de gente
Nem amor o suficiente
Para doar a um irmão.

Não tem ele discernimento
Do que é certo ou errado,
Tampouco conhece a história
Do Jesus crucificado
Que deu sua própria vida
Por essa gente desmerecida
Desse Seu nobre legado.

Imolado numa cruz
Ele morreu para nos salvar
Da ira do próprio homem
Que não se cansa de pensar
Que é um ser onisciente,
Soberano, onipotente
E incapaz de errar...

Mas inda resta a esperança
De que a humanidade
Possa abrir seu coração
E, com sobriedade,
Conheça a história de Jesus
Que, morto numa cruz,
Nos amou de verdade.

E essa tal esperança
Nos chega com o Natal,
Tempo de fraternidade,
Festa sem outra igual,
Pois nesse dia o Salvador,
Filho do Criador,
Nasceu livre de todo o mal,

Inclusive do pecado
Que consome o ser humano
Que o faz pensar somente
No poder sobre-humano
De dominar o mundo,
Sentimento oriundo
De um coração tirano.

Mas o espírito natalino
Renova as emoções,
Traz de volta o amor
Aos nossos corações;
Nos enche de alegria,
Nos alimenta a fantasia
De sermos os guardiões

Daquele amor infinito
Que Jesus de Nazaré
Demonstrou pelo homem
Tão necessitado de fé
E muito carente de amor,
Mas cheio de rancor
Tenho certeza que é.

Tenho certeza, ainda,
Que o homem sem Jesus
Não consegue enxergar
Sem o clarão da luz
Que ilumina o caminho
Dos que pensam estar sozinhos
Carregando sua cruz.

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

QUERO
(Carlos Drummond de Andrade)

Quero que todos os dias do ano,
todos os dias da vida,
de meia em meia hora,
de 5 em 5 minutos,
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas, que me amas, que me amas...
Do contrário evapora-se a amação,
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes, apagas teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto, isto sempre,
isto cada vez mais.

Quero ser amado por e em tua palavra,
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra e na sua emissão,
amor saltando da língua nacional,
amor feito som vibração espacial.

No momento em que não me dizes:Eu te amo,
inexoravelmente sei que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres, urgente, repetido
Eu te amo, amo, amo, amo, amo...
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CANÇÃO DA GAROA
(Mário Quintana)

Em cima do telhado
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber o porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin...

domingo, 4 de dezembro de 2011

DONA DA SAUDADE
(Efigênia Coutinho)


Do céu glacial respinga orvalho
Que ao luar, em gotas de amores,
Nas pétalas fazem seu agasalho
Dando vida e umidade às flores!

O luar passeia beijando o mundo,
Acariciado na sinfonia do vento
Derrama sua prata em solo fecundo,
E ao coração embala sonho luarento!


Mais existem seres pela madrugada
Que perambulantes e desalmados,
Perturbam sonhos em torpe cilada
Deixando os devaneios sepultados!

E eu abraço esta dor da saudade,
Que se quebra em relembranças
Das sombras do que foi a realidade,
Já perdida no ar das toscas mudanças!

Deixo meu rosto aqui no teu altar,
Coberto do amor que você não mereceu.
E nos meus olhos você vai poder olhar
Só não saberá dizer qual de nós morreu!

Com o coração assim desencantado,
Adormeço na saudade de outras alvoradas,
Com o sentimento ferido e enganado
Revivo para sentir emoções renovadas !

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

NA MESA DUM BAR
(Wálteno Marques)

- Ao querido irmão, para uma breve reflexão -

Na mesa dum bar rolam altas conversas,
cenário de desabafos de homens sofridos,
entre um copo e outro na goela aperta
a voz sufocada de alguém preterido.

Na mesa dum bar rolam altas conversas
de homem em ruína que se diz cortejado,
entre um copo e outro na goela aperta
o choro de quem se diz tão apaixonado.

Na mesa dum bar rolam altas conversas,
entre um copo e outro na goela aperta
a doce-viva lembrança da mulher amada.

Rolam altas conversas na mesa dum bar,
que entre um copo e outro vêm alimentar
o gesto vil dum trago de quem se acovarda.