terça-feira, 31 de maio de 2011

QUE SEJA DOCE...
(Caio F. Abreu)

Então, que seja doce...
Repito todas as manhãs,
ao abrir as janelas para deixar
entrar o sol ou o cinza dos dias,
bem assim: que seja doce.

Quando há sol, e esse sol bate
na minha cara amassada
do sono ou da insônia,
contemplando as partículas
de poeira soltas no ar,
feito um pequeno universo,
repito sete vezes para dar sorte:
que seja doce, que seja doce,
que seja doce...e assim por diante.

Mas, se alguém me perguntar
o que deverá ser doce,
talvez eu não saiba responder...
Tudo é tão vago
como se não fosse nada.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

RABISCOS QUAISQUER
(Aline Menezes)

O poeta que rabisca algumas linhas
é solitário por fazer sua própria arte.
O poeta que rabisca algumas linhas
traz da alma a sombra de sua luz.
O poeta que rabisca algumas linhas
olha o canto das palavras pra contar.
O poeta que rabisca algumas linhas
é um poeta como eu:
angustiado e vazio;
perdido e duvidoso;
estranho e só,
assim como a pedra
no meio do caminho.

sábado, 28 de maio de 2011

A BUNDA
(Carlos Drummond de Andrade)

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo,
nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo,
a bunda basta-se.
Existe algo mais?
Talvez os seios!...
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio.
Anda por si na cadência mimosa,
no milagre de ser duas em uma,
plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se.
Montanhas avolumam-se, descem.
Ondas batendo numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda

sexta-feira, 27 de maio de 2011

AOS POETAS CLÁSSICOS.
(Patativa do Assaré)

Poeta niversitário,
Poeta de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedi licença,
Pois mermo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.


Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.

No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a recordá.

Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele auto
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.

Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.

Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.

Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.

Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a rerva
Pintadinha de fulô.

Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem distante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.

Dêste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lêsma,
Tudo sofre a merma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a merma.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A RUA DOS CATAVENTOS
(Mário Quintana)

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.


Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

RECICLAGEM
(Graciela da Cunha)

Somente estava esperando
ouvir o silêncio
de dentro de mim
para recomeçar

a reciclar minhas emoções,
cantar novas canções,
ouvir mais meu coração
saltitando em busca da esperança.

Escutarei o rumo da criança
que está dentro de mim
com sorriso matreiro e arteiro...
Pausa interrompida pelo
tilintar da vida!

terça-feira, 24 de maio de 2011

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
(Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei.
Vou-me embora pra Pasárgada.

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

domingo, 22 de maio de 2011

FLOR
(Marcos Alagoas)

Sempre há alguém
plantando
uma flor
em algum jardim,
em algum caminho,
em algum lugar
no mundo...

Seja onde for,
seja
qualquer
flor!...


Não importa a sua cor
nem quem
a plantou,
mas que seja bela,
sem espinhos,
sem dor.

Que seja
alma colorida
e símbolo
do Amor.

sábado, 21 de maio de 2011

HINO À RAZÃO
(Antero de Quental )

Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre os clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

AMOR...DE MENTIRAS
(J. G. de Araújo Jorge)

I

Eram beijos de fogo, eram de lavas,
e sabiam a sonhos e ambrosias.
Com pensar que a boca com que os dava
era a mesma afinal com que mentias?

Se eras as mais humilde das escravas
em dádivas, anseios, alegrias,
- como prever que o amor que me juravas
seria mais uma das tuas heresias ?

Como supor ser tudo um falso jogo?
E crer que se extinguisse aquele fogo
que acendia em teus olhos duas piras?

E descobrir, - no instante em que me amavas, -
que em tua boca ansiosa misturavas
ao mesmo tempo beijos e mentiras ?


II

Eram brancas as mãos, brancas e puras,
mãos de lã, de pelúcia, mãos amadas...
Como prever, vendo-as fazer ternuras,
que nas unhas traziam emboscadas ?

Era tão doce o olhar... em conjeturas
felizes, e em promessas impensadas...
Como enxergar, portanto, as amarguras
e as frias traições nele guardadas ?

Como pensar em duas, se somente
uma eu tinha em meus braços, e adorava,
e a outra, - uma impostora, - se mantinha ausente.

E, afinal, como ver, nessa alegria,
que o amor que tanta Vida me ofertava
seria o mesmo que me mataria ?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

AINDA UMA VEZ, ADEUS!
(Gonçalves Dias)

Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!

Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esperança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.

Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!

Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias - bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto lutei!

Oh! se lutei!... mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?

Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu, quinhão de dor!

Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!

Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!

Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!

Enganei-me!... - Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!

Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
C'o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal.

Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!

És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!

Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!

Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; - e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, - de compaixão.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

NO BOLSO DE MINH'ALMA
(Efigênia Coutinho)

Tem essência do bem querer,
Tem sons suaves de sinfonia,
Dando mais vida ao viver
Fazendo todo momento alegria.

No bolso de minh'alma
Tem Amor, paixão fluente,
Guia de sonhos d'alma
Emana esse querer presente.


Andarilho de fascinação,
Aventura que o céu teceu.
Um sentir de terna afeição,
Sonho que sempre aqueceu.

Nunca dantes senti tanto
Nobre sonho vindo lucilar,
Tendo todo um encanto,
Na majestosa arte de Amar!

terça-feira, 17 de maio de 2011

ESSENCIAL
(Andrea Joy)

Amei-te porque em ti
Minha impetuosidade
Encontrou freio,
Porque tua doçura temperou
A estupidez dos meus anseios
E tua fleuma encheu de paz
Minhas explosões.

Aprendi contigo que o silêncio,
Às vezes, é valioso.
Na tua placidez descobri
Mais um tesouro e no teu cerne,
A sábia voz da tua sapiência.

Amei o lirismo da tua fala,
A sedução do teu sorriso...
Amei tua doçura, tua prudência
E até tua timidez.
Amei o teu jeito estreme,
E na eternidade,
Te amaria igualmente.

Sensível, também amei a redoma
Que reserva o teu ser.
E assim, amei teu corpo,
Teus olhos, teu odor...
Amei em ti o que não fenece
E o que em ti há de fenecer.

Já não observo se tua omissão
É uma virtude ou uma moléstia,
Apenas submeto-me, inerte,
Ao plano do teu fadário,
Que me arreda de ti e me desapossa
Do meu Amor Essencial.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

TEU CORPO MORENO
(Joésio Menezes)

Em teu corpo moreno
Há um doce veneno
Que me encanta e seduz:
É o seu cheiro adocicado
Que me deixa inebriado
E ao pecado me conduz.

É o pecado do desejo
Que dentro de mim vejo
Consumir-me o juízo,
Levar-me à insanidade,
Tirar-me a serenidade,
Afastar-me do paraíso...

Mas se preciso for,
Esqueço-me do pudor
E provo desse veneno.
E depois do acontecido,
Embriago minha libido
Nesse teu corpo moreno.

domingo, 8 de maio de 2011

MÃE
(Mário Quintana)

Mãe... São três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras
E nelas cabe o infinito.

Para louvar a nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer.

Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do CÉU
E apenas menor que Deus!


MÃE
(Joésio Menezes)

Mãe é sinônimo de aconchego,
De carinho, de paz, de esperança...
E entre um e outro chamego
Vai vendo crescer sua criança.

Mãe é sinônimo de luz,
De fé, de justiça, de bonança...
E inspirada na vida de Jesus
Vai ensinando a viver sua criança.

Mãe é sinônimo de prudência
De sabedoria, de paciência
De felicidade e de confiança.

Mãe é sinônimo de Amor,
E abençoada pelo Criador
Dá a vida pela sua criança.

sábado, 7 de maio de 2011

EPITÁFIO D’UM AMOR
(Vitalves Neto)

Fui extenso, limitado, fui belo,
fui pródigo, fui profano, fui...

Hoje nada sou, de mim resta quase nada,
muito pouco, não mais o bastante,
talvez lembranças, sonhos,
mas foram-se as ilusões.

As esperanças devoram-me dia após dia
como um vapor que leva a última gota
do que já foi um oceano,
mas não me rendo, vou até o fim,
mesmo que não mais percebam-me,
que não falem mais de mim,
ainda estarei aqui,
alimentando-me do que me devora,
e quando tudo de mim se for,
irei ao meu mausoléu e lá
ficará em memória esse meu epitáfio,
que aos poucos se diminuirá,
porém jamais se findará,
pois, não fui eterno,
mas o que restará de mim será.

Quando eu me for,
deixarei tudo preparado para um próximo,
meu espaço vazio,
minhas duas metades desfeitas,
ambas buscando outra metade,
que provirão dois amores,
mais duas histórias de amores
que podem terminar igual a mim.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

HOMENAGEM A AUGUSTO DOS ANJOS
(Fábio Mozart)

Ele já foi decantado
Por todos os trovadores
E bons improvisadores
Do verso escrito e cantado.
Desde os vates do passado,
A arte desse poeta
Aponta como uma seta
O objetivo da vida:
O belo é a grande meta.
Mesmo falando da morte,
Esse poeta do “Eu”
Que aqui em sapé nasceu
Tinha a natureza forte
Pois a beleza era o norte
De sua obra imortal,
Criação original
Da mente do mestre Augusto
Por isso eu digo sem susto:
Excede o bem e o mal.
O seu cantar era aberto
À criação mais poética
Porém sem respeitar ética,
Sem ser errado nem certo.
Um linguajar bem liberto
Dominada a criação
Desse gênio brasileiro
Morrendo em solo mineiro
Longe do amado torrão.
Todas as comunidades
De doutor e acadêmico
Estudaram o verso anêmico,
Fora das realidades,
Constatando essas verdades
Como coisa de doente,
Mostrando para o vivente
Que somos apenas pó
E no mundo estamos só
Com a solidão da gente.
Augusto é o inventário
Da dor e da solidão
Transformou-se num filão
Para poeta lendário,
E até um certo otário
Sem caráter e sem talento
Com a cabeça de vento
Se diz sucessor de Augusto.
Eu ouço e até levo um susto
Diante de tal intento.
Um poeta verdadeiro
Augusto dos Anjos é.
Eu comparo com Pelé:
É o único e derradeiro.
Lembrado no mundo inteiro
Já faz parte da História
Para nós é uma glória
No aspecto cultural
O poeta genial
Vive na nossa memória.
Todo encolhido nas asas
Do corvo agourando a morte,
Diz o poeta que a sorte
É nuvem em cima das casas,
É lama nas covas rasas
Lá no Engenho Pau D´Arco
Onde se deu bem o marco
Do nascimento do artista
Que colocou bem à vista
Da alma humana o charco.
84 era o ano
E o século dezenove.
Lentamente já se move
Esse poeta troiano
De cuja obra eu me ufano
Sem medo da podridão
Arrastando o coração
Do homem com seu escarro
Pois somos feitos de barro
E o destino é o caixão.
No dia 20 de abril
Comemoro o nascimento
Desse homem de talento
Que aqui em Sapé surgiu
Pois o mundo nunca viu
Tanta arte e irreverência
Com a clara consciência
Da Nua realidade:
A tragédia e a maldade
De nossa humana vivência.
No mais tudo é teoria,
Só lendo os versos do “EU”
Pra sentir como sofreu
Augusto em sua agonia
Descrevendo a anarquia
Que é a natureza humana
Com a crença soberana
De uma obra singular.
Augusto foi e será
O maior dessa porfia.

domingo, 1 de maio de 2011

LUTA DOS TRABALHADORES RUMO AO SOCIALISMO
(Maria Geneci dias Costa)

Irei narrar uma história
De luta e exploração
De humildes trabalhadores
Escravos do ganha pão
Em busca do socialismo
Neste mundo de opressão


Dezesseis horas por dia
Trabalhavam sem parar
Homens, mulheres, crianças
Dormindo no mesmo lugar
Juntos com máquina e sujeira
Numa humilhação sem par

Trabalhadores inconformados
Começaram a lutar
Quebrando as ferramentas
Querendo assim se vingar
E a pena de morte surgiu
Pra todos intimidar

Trabalhadores cansados
Foram mudando essa tese
Com o trabalho coletivo
Se organizando em breve
E logo na primeira fábrica
Surgiu a primeira greve

Aos poucos os trabalhadores
Foram se organizando
Em ligas de ajuda mútua
E associações formando
Surgindo assim o sindicato
E a vida de todos mudando

Dentre todas as conquistas
Que conseguiram ganhar
A jornada de trabalho
É a mais elementar
De 16 horas diárias
Pra 8 se trabalhar

Nos anos 85
Houve grande opressão
Dia 1º de maio
Contra a manifestação
Enforcaram grandes líderes
Em clima de repressão

Trabalhadores incansáveis
Sempre com grande espírito
Lutando contra o poder
Formaram um partido político
Pra defender seus direitos
Contra todos os delitos.