terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

MINHA MUSA
(Machado de Assis)

A MUSA, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.

A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos
Que as dores que oculto me fazem trair.


A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor

A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante - meu berço infantil,
De afetos um nome na idéia me traça,
Que o eco no peito repete: - Brasil!

A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: - Catão!

O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ASSIM SERÁ...
(Rangel Alves da Costa)

Vasto e belo mundo
de vida bela e vasta felicidade
ainda que digam que não
sei que existirá sempre
um mundo e uma vida assim
aqui mesmo nessa fronteira
aqui mesmo dentro de nós

e me vem essa doce manhã
me vem esse canto de pássaros
me vem o som das folhagens
me vem o segredo dos bichos
me vem a natureza cantante
me vem as alegres miragens
me vem a estrada aberta
me vem o destino de hora incerta
para encontrar com a realidade
e construir o desígnio de Deus
alicerçar a paz e a felicidade

ainda que digam não
ninguém quer a escuridão
ao abrir a porta e a janela
mas o vasto e belo mundo
de vasta felicidade e vida bela.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

POEMA DE UMA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
(Manuel Bandeira)

Entre a turba grosseira e fútil
Um pierrot doloroso passa.
Veste-o uma túnica inconsútil
feita de sonho e de desgraça…

o seu delírio manso agrupa
atrás dele os maus e os basbaques.
Este o indigita, este outro apupa…
indiferente a tais ataques,

Nublava a vista em pranto inútil,
Dolorosamente ele passa.
veste-o uma túnica inconsútil,
Feita de sonho e de desgraça…

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

SONHANDO
(Álvares de Azevedo)

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la, meu ser devaneia.
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
Que tens, coração?
Que tremes assim?
Cansaste, donzela?
Tem pena de mim!

Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
O seio gelou?...
Não durmas assim!
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!

Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
Nem um ressonar...
Não durmas assim...
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!

Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estátua sem vida,
Tem pena de mim!

E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
Nas vagas sonhando
Não durmas assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!

E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Não durmas assim...
Não morras, donzela,
Espera por mim!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O DIA DO NOSSO BAILE
(Patrícia Ximenes, www.patriciaximenes.com)

Nosso baile será encantador
Eu de Colombina e você de Pierrot
Buscando um doce afeto
O amor de quem eu tanto quero.

Nossa dança será muito linda
Cheia de emoção e de magia
Os beijos serão infinitos
Será o encontro mais bonito.

Quando a orquestra finalizar
Não iremos nos separar
Caminharemos a um lugar
Onde lá poderemos nos amar.

Nosso amor será tanto!
Depois não haverá mais pranto
De você não irei largar
Para sempre um belo par.

As recordações permanecerão vivas
Até o fim de nossas vidas.
Pois o amor verdadeiro é ilustre
Lindo e infinito enquanto dure.

(texto inspirado na música “ Baile de Máscaras”, de Guilherme Arantes)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

QUANDO FAÇO ACONTECER
(Vitalves, www.vitalves.com)

Se me entendes é um gênio
Se me ouves é louco
Já sonhei um milênio
Só vivi um pouco
Sigo os traços de um laço
Rego as ondas do mar
Transfiro ondas no espaço
Faço um astro girar
Tenho um pouco de louco
Tenho passos de mago
Sigo em fé no sufoco
Sou o vilão num estrago
Amo ouvir o silêncio
Adoro fazer barulho
Faço lágrimas molharem um lenço
Sou uma serpente num embrulho
Sou a fúria do entendimento
De repleta ignorância
Vigor de conhecimento
E rigor de tolerância
Eu sou fonte de prazer
Quando faço acontecer.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

UMA ORAÇÃO PARA VOCÊ
(William Shakespeare)

Pedi ao Pai para que guiasse seus passos,
Que iluminasse sua mente.
Uma benção especial de Sua graça,
Pedi aos anjos para ficarem todo o tempo
Com você, vigiar e proteger
Em tudo o que você fizer.
Quando eu orei ao Pai,
Pedi que lhe enviasse, nas asas dos anjos,
Um toque de amor e bondade.

Pedi para que os anjos
Sussurrem em seus ouvidos
Paz e alegria, canções de amor
E felicidade em delicada sinfonia
Angélica embalando seu sono...

Ainda fiz mais um pedido:
Que o Pai permitisse
Aos seus anjos protetores
Que lhe proporcionem serenidade.

Assim, quando você sentir
Uma leve brisa tocando o seu rosto,
Não se assuste!...
São os anjos enviados por Deus
Guiando os seus passos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

VOZ DISSONANTE
(Xiko Mendes, da APL)

Se a maioria se manifesta a favor,
Há algo que merece contestação.
Unanimidade é coisa de ditador;
Calar-se é censurar a contradição.

Discordar deve ser direito natural
De quem ama e luta por liberdade.
Concordar nem sempre é o normal
Se há argumentos contra a verdade.

Viver é libertar-se do autoritarismo,
Inclusive do velho Culto à Certeza.
Viver é ver triunfar meu ceticismo
Na direção inversa à da correnteza.

Serei sempre uma Voz Dissonante
Contra os demagogos e mentirosos.
Unanimidade é coisa de ignorante
Que vibra com discursos falaciosos.

Se concordar com tudo é ignorância;
Divergir de tudo exige inteligência.
E quem protesta dá luz à esperança;
E quem se omite castra a consciência.

Serei sempre uma Voz Dissonante
Celebrando a dúvida como princípio.
Essa é a única certeza no horizonte:
Ter como virtude meu Livre-arbítrio.

Nem sempre concordo com a maioria,
Pois às vezes é bom ser voto vencido
Porque também é útil na Democracia
Rir-se na cara do vencedor arrependido.

Há momentos em que o nosso silêncio
Não é instrumento de falácia alienante:
É quando se diverge do falso consenso
Para traduzir a nossa Voz Dissonante.