terça-feira, 31 de julho de 2012


MEDICINA
(Olavo Bilac)

Rita Rosa, camponesa,
Tendo no dedo um tumor,
Foi consultar com tristeza
Padre Jacinto Prior.

O Padre, com gravidade
De um verdadeiro doutor,
Diz: "A sua enfermidade
Tem um remédio: o calor...

Traga o dedo sempre quente...
Sempre com muito calor...
E há-de ver que, finalmente,
Rebentará o tumor!"

Passa um dia. Volta a Rita,
Bela e cheia de rubor...
E, na alegria que a agita,
Cai aos pés do confessor:

"Meu padre! estou tão contente!...
Que grande coisa o calor!
Pus o dedo em lugar quente...
E rebentou o tumor..."

E o padre: "É feliz, menina!
Eu também tenho um tumor...
Tão grande, que me alucina,
Que me alucina de dor...

"Ó padre! mostre o dedo,
(Diz a Rita) por favor!
Mostre! porque há-de ter medo
De lhe aplicar o calor?

Deixe ver! eu sou tão quente!....
Que dedo grande! que horror!
Ai! padre... vá... lentamente...
Vá gozando... do calor...

Parabéns... padre Jacinto!
Eu... logo... vi... que o calor...
Parabéns, padre... Já sinto
Que rebentou o tumor..."

segunda-feira, 30 de julho de 2012


NÃO TE QUERO
(Pablo Neruda)


Quero-te só porque a ti te quero, 
Odeio-te sem fim e odiando te rogo, 
e a medida do meu amor viajante, 
é não te ver e amar-te, 
como um cego.

Talvez consumirá a luz de Janeiro, 
seu raio cruel meu coração inteiro, 
roubando-me a chave do sossego, 
nesta história só eu me morro, 
e morrerei de amor porque te quero, 
porque te quero amor, 
a sangue e fogo.

Nega-me o pão, o ar, 
a luz, a primavera, 
mas nunca o teu riso, 
porque então morreria.

quarta-feira, 18 de julho de 2012


DESEJOS
(Carlos Drummond de Andrade)

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

segunda-feira, 16 de julho de 2012


NOITE
(Adenir de Oliveira)
Céu estrelado, noite vazia...
Vaga-lumes sinalizam,
Com suas lanternas fosforescentes,
O caminho na escuridão.
Num canto qualquer do infinito,
O silêncio faz sentir
Nos corações apaixonados
Trocas de eternas carícias de amor.
E no vazio do silêncio,
O pensamento baila como borboletas,
Buscando os teus beijos,
O teu amor, a tua solidão...

Enquanto isso,
O céu continua estrelado,
A noite vazia e escura.
E os vaga-lumes acariciando-a
Num sutil vai e vem de luzes pisca-piscas.

domingo, 15 de julho de 2012


VERSOS À LÍLIA DINIZ
(Joésio Menezes)

Os deuses da poesia
Deram miolo ao pote
Esperando que dele brotem
Versos cheios de magia.

E para nossa alegria,
Daquele miolo de pote
Surgiram sem fricote
Doces versos, à luz do dia,

De uma moça pequenina
Cujo riso de menina
Ela trouxe de Imperatriz...

E os versos deste soneto,
Os quais são meu amuleto,
Vão para a diva Lília Diniz.