segunda-feira, 4 de abril de 2011

DEGREDO
(Pedro Homem de Melo)

Naquele branco navio
Que ao longe parece fumo,
Que as ondas do mar salgado
Parecem deixar sem rumo,
Sou eu quem vai embarcado,
Província! minha província
Como agora me lembrais!
Cheiro da terra molhada
Resina dos pinheirais!
Província! Minha província!
Arga! Bonança! Peneda!
Formariz e Portuzelo!
Abelheira e Pomarchão!
Ai Ponte de Mantelais!
Aldeia de Verdoejo!
Ai S. Miguel de Frontoura!
Friestas! Paçô! Venade!
Vilar de Moiros! Carreço!
Santa Cristina de Afife!
E lá no fundo Cabanas...
Rio Minho! Rio Coura!
Rio de Ponte do Lima!
Rio de Ponte da Barca!
(O mar começa em Vi-Ana...)
Ai! a Torre de Quintela
Mai-la da Glória! Bretiandos!
Ai o paço do Cardido!
Nossa Senhora de Aurora!
Alminhas de Além da Ponte!
Ai Cruzeiro da Matança!
Ai! as árvores da Gelfa!
Bruxarias e ladrões...
Certa mão branca nos muros...
Vozes na casa deserta...
Ai! o vento! A noite! o medo!
E a madrugada! E os poentes?
E as rusgas? E as romarias?
Mocidade! Mocidade!
Capelinha de S. Bento!
Carreirnhos ao luar...
(Por quantos deles não vão
Os homens à perdição
Que logo à morte vai dar?)
Ai! leiras de milho alto!
Videiras! Ai videirinhas!
Canções na pisa do vinho!
Toadilhas de aboiar!
Esfolhadas! Esfolhadas!
Ai! bailaricos na praia
Pelas cortas do argaço!
Tiranas1 Viras e gotas!
Verde Gaio! Verde Gaio!
Minha vila bréjeira!
Minha harmónica tombada!
Como agora me lembrais!
E aquele pinheiro manso
Ao dar a volta da estrada?
E aqueles beijos contados
Nos dedos daquela mão?
E as ondas do mar baloiçam
Já não sei que embarcação...
E aquele branco navio
Que ao longe parece fumo,
Que as ondas do mar salgado
Parecem deixar sem rumo,
(Aquele branco navio!)
É vida humana. Pecado
Maior do que o mar salgado.
Que o mar, sem ele, é vazio!

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