(Paulo Setúbal)
- A Luiz Piza Sob -
É noite… O santo famoso,
O doce, o meigo S. João,
Tivera um dia glorioso,
Dia de festa e de gozo,
Que encheu de estrondo o sertão.
Já cedo, em meio aos clamores,
Aos vivas do poviléu,
Lindo, enramado de flores,
Um mastro de quentes cores,
Subira em triunfo ao céu!
E agora, enquanto, alva e lesta,
Palpita a lua hibernal,
Na fazenda, toda festa,
Referve a alegria honesta
Da noite tradicional.
Dentro, com grande aparato,
Brilha enfeitado o salão:
Que há, nessa festa do mato,
Pessoas de fino trato,
Chegadas para o S. João…
Destaca-se entre essa gente
A flor do mundo local:
O padre, o juiz, o intendente,
– O próprio doutor Vicente
Que é deputado estadual!
Ante o auditório pasmado,
Que, num enlevo, sorri,
A Isabelinha Machado
Batuca, sobre o teclado,
Uns trechos do Guarani…
Tudo o que toca e assassina,
Recebe imensa ovação;
Todos, quando ela termina,
Põem-se a exclamar: ” Que menina!
Dá gosto! Que vocação!”
E ela, entre ingênua e brejeira,
Com ares de se vingar:
” Agora, queira ou não queira,
Seu Saturnino Pereira
Há de também recitar.”
—Surge, à força o Saturnino…
Rugem palmas ao redor!
É um tipo, esgalgado e fino,
Que sabe desdde menino,
Dizer Castro Alves de cor.
Na sala, muda e tranquila,
Tombam, com chama, os versos seus;
E ele, o letrado da vila,
Ao som da velha Dalila,
Lá vai: ” Foi desgraça, meu Deus...”
Após ouvir a estupenda
Flamância do seu falar,
No amplo salão da fazenda,
Os velhos jogos de prenda
Reclamam o seu lugar.
Começa então a berlinda.
Risos. Cochichos. Zum-zum.
– De pé, donairosa e linda.
Pergunta a D. Florinda
Os dotes de cada um:
Por que razão, seu Martinho,
Foi à berlinda a Lelê?
– ” Porque olha muito ao vizinho”;
“Porque é má; porque é um anjinho”;
“Porque é vaidosa”; “porque…”
E todo o mundo, a porfia,
Põe farpas na indiscreção…
E enquanto, ingênua e sadia,
Essa campônea alegria
Faz tumultuar o salão.
Lá fora, alegre e gabola,
Nun terreiro de café,
Ao rude som da viola,
A caboclada rebola
Num tremendo bate-pé!
A filha do Zé-Moreira
É o mimo deste São João;
À luz da rubra fogueira,
Requebra a guapa trigueira
Ao lado de Chico Peão.
Candoca, a noiva do Jango,
Baila num passo taful;
É a flor que, nesse fandango,
Tem lábios cor de morango,
Vestido de chita azul.
No sapateio se nota,
Aos risos dos que lá estão,
Nhô Lau, de esporas e bota.
Dançando junto à nhá Cota,
Viúva do Conceição….
A voz do pinho que chora,
Por sob a paz do luar,
Fremindo vai, noite afora,
Essa alegria sonora
Da caboclada a bailar!
E do salão, qua ainda brilha
Num faiscante esplendor,
Chegam os sons da quadrilha,
Que alguém ao piano dedilha
Com indomável furor.
E no sarau campezino,
Nessa festa alegre e chã
Ruge a voz do Saturnino,
Que grita, esgalgado e fino:
“Balancez! Tour! En avant...”
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