Ó TREVAS, QUE ENLUTAIS A NATUREZA
(Bocage)
Ó trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;
Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que voz minha tristeza.
Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura.
Volvei, pois, sombras vãs, ao fogo eterno;
E, lamentando a minha desventura,
Movereis à piedade o mesmo Inferno.
"A poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo, e a história somente o detalhe." (Aristóteles)
quinta-feira, 30 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
VERSO E REVERSO
(Euclides da Cunha)
Bem como o lótus que abre o seio perfumado
Ao doce olhar da estrela esquiva da amplidão
Assim também, um dia, a um doce olhar, domado,
Abri meu coração.
Ah! foi um astro puro e vívido, e fulgente,
Que à noite de minh'alma em luz veio romper
Aquele olhar divino, aquele olhar ardente
De uns olhos de mulher...
Escopro divinal - tecido por auroras -
Bem dentro do meu peito, esplêndido, tombou,
E nele, altas canções e inspirações ardentes
Sublime burilou!
Foi ele que a minh'alma em noite atroz, cingida,
Ergueu do ideal, um dia, ao rútilo clarão.
Foi ele - aquele olhar que à lágrima dorida
Deu-me um berço - a Canção!
Foi ele que ensinou-me as minhas dores frias
Em estrofes ardentes, altivo, transformar!
Foi ele que ensinou-me a ouvir as melodias
Que brilham num olhar...
E são seus puros raios, seus raios róseos, santos
Envoltos sempre e sempre em tão divina cor,
As cordas divinais da lira de meus prantos,
D'harpa da minha dor!
Sim - ele é quem me dá o desespero e a calma,
O ceticismo e a crença, a raiva, o mal e o bem,
Lançou-me muita luz no coração e na alma,
Mas lágrimas também!
É ele que, febril, a espadanar fulgores,
Negreja na minh'alma, imenso, vil, fatal!
É quem me sangra o peito - e me mitiga as dores.
É bálsamo e é punhal.
(Euclides da Cunha)
Bem como o lótus que abre o seio perfumado
Ao doce olhar da estrela esquiva da amplidão
Assim também, um dia, a um doce olhar, domado,
Abri meu coração.
Ah! foi um astro puro e vívido, e fulgente,
Que à noite de minh'alma em luz veio romper
Aquele olhar divino, aquele olhar ardente
De uns olhos de mulher...
Escopro divinal - tecido por auroras -
Bem dentro do meu peito, esplêndido, tombou,
E nele, altas canções e inspirações ardentes
Sublime burilou!
Foi ele que a minh'alma em noite atroz, cingida,
Ergueu do ideal, um dia, ao rútilo clarão.
Foi ele - aquele olhar que à lágrima dorida
Deu-me um berço - a Canção!
Foi ele que ensinou-me as minhas dores frias
Em estrofes ardentes, altivo, transformar!
Foi ele que ensinou-me a ouvir as melodias
Que brilham num olhar...
E são seus puros raios, seus raios róseos, santos
Envoltos sempre e sempre em tão divina cor,
As cordas divinais da lira de meus prantos,
D'harpa da minha dor!
Sim - ele é quem me dá o desespero e a calma,
O ceticismo e a crença, a raiva, o mal e o bem,
Lançou-me muita luz no coração e na alma,
Mas lágrimas também!
É ele que, febril, a espadanar fulgores,
Negreja na minh'alma, imenso, vil, fatal!
É quem me sangra o peito - e me mitiga as dores.
É bálsamo e é punhal.
domingo, 26 de junho de 2011
LÁGRIMAS DA VIDA
(Álvares de Azevedo)
Se tu souberas que lembrança amarga
Que pensamento desflorou meus dias,
Oh! tu não creras meu sorrir leviano,
Nem minhas insensatas alegrias!
Quando junto de ti eu sinto, às vezes,
Em doce enleio desvairar-me o siso,
Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...
Mas da lágrima em troco eu temo um riso!
O meu peito era um templo - ergui nas aras
Tua imagem que a sombra perfumava...
Mas ah! emurcheceste as minhas flores!
Apagaste a ilusão que o aviventava!
E por te amar, por teu desdém, perdi-me...
Tresnoitei-me nas orgias macilento,
Brindei blasfemo ao vício e da minh'alma
Tentei me suicidar no esquecimento!
Como um corcel abate-se na sombra,
A minha crença agoniza e desespera...
O peito e lira se estalaram juntos...
E morro sem ter tido primavera!
Como o perfume de uma flor aberta
Da manhã entre as nuvens se mistura,
A minh'alma podia em teus amores
Como um anjo de Deus sonhar ventura!
Não peço o teu amor... eu quero apenas
A flor que beijas para a ter no seio...
E teus cabelos respirar medroso...
E a teus joelhos suspirar d'enleio!
E quando eu durmo... e o coração ainda
Procura na ilusão tua lembrança,
Anjo da vida passa nos meus sonhos
E meus lábios orvalha d'esperança!
(Álvares de Azevedo)
Se tu souberas que lembrança amarga
Que pensamento desflorou meus dias,
Oh! tu não creras meu sorrir leviano,
Nem minhas insensatas alegrias!
Quando junto de ti eu sinto, às vezes,
Em doce enleio desvairar-me o siso,
Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...
Mas da lágrima em troco eu temo um riso!
O meu peito era um templo - ergui nas aras
Tua imagem que a sombra perfumava...
Mas ah! emurcheceste as minhas flores!
Apagaste a ilusão que o aviventava!
E por te amar, por teu desdém, perdi-me...
Tresnoitei-me nas orgias macilento,
Brindei blasfemo ao vício e da minh'alma
Tentei me suicidar no esquecimento!
Como um corcel abate-se na sombra,
A minha crença agoniza e desespera...
O peito e lira se estalaram juntos...
E morro sem ter tido primavera!
Como o perfume de uma flor aberta
Da manhã entre as nuvens se mistura,
A minh'alma podia em teus amores
Como um anjo de Deus sonhar ventura!
Não peço o teu amor... eu quero apenas
A flor que beijas para a ter no seio...
E teus cabelos respirar medroso...
E a teus joelhos suspirar d'enleio!
E quando eu durmo... e o coração ainda
Procura na ilusão tua lembrança,
Anjo da vida passa nos meus sonhos
E meus lábios orvalha d'esperança!
sexta-feira, 24 de junho de 2011
SÃO JOÃO
(Paulo Setúbal)
É noite… O santo famoso,
O doce, o meigo S. João,
Tivera um dia glorioso,
Dia de festa e de gozo,
Que encheu de estrondo o sertão.
Já cedo, em meio aos clamores,
Aos vivas do poviléu,
Lindo, enramado de flores,
Um mastro de quentes cores,
Subira em triunfo ao céu!
E agora, enquanto, alva e lesta,
Palpita a lua hibernal,
Na fazenda, toda festa,
Referve a alegria honesta
Da noite tradicional.
Dentro, com grande aparato,
Brilha enfeitado o salão:
Que há, nessa festa do mato,
Pessoas de fino trato,
Chegadas para o S. João…
Destaca-se entre essa gente
A flor do mundo local:
O padre, o juiz, o intendente,
– O próprio doutor Vicente
Que é deputado estadual!
Ante o auditório pasmado,
Que, num enlevo, sorri,
A Isabelinha Machado
Batuca, sobre o teclado,
Uns trechos do Guarani…
Tudo o que toca e assassina,
Recebe imensa ovação;
Todos, quando ela termina,
Põem-se a exclamar: ” Que menina!
Dá gosto! Que vocação!”
E ela, entre ingênua e brejeira,
Com ares de se vingar:
” Agora, queira ou não queira,
Seu Saturnino Pereira
Há de também recitar.”
—Surge, à força o Saturnino…
Rugem palmas ao redor!
É um tipo, esgalgado e fino,
Que sabe desdde menino,
Dizer Castro Alves de cor.
Na sala, muda e tranquila,
Tombam, com chama, os versos seus;
E ele, o letrado da vila,
Ao som da velha Dalila,
Lá vai: ” Foi desgraça, meu Deus...”
Após ouvir a estupenda
Flamância do seu falar,
No amplo salão da fazenda,
Os velhos jogos de prenda
Reclamam o seu lugar.
Começa então a berlinda.
Risos. Cochichos. Zum-zum.
– De pé, donairosa e linda.
Pergunta a D. Florinda
Os dotes de cada um:
Por que razão, seu Martinho,
Foi à berlinda a Lelê?
– ” Porque olha muito ao vizinho”;
“Porque é má; porque é um anjinho”;
“Porque é vaidosa”; “porque…”
E todo o mundo, a porfia,
Põe farpas na indiscreção…
E enquanto, ingênua e sadia,
Essa campônea alegria
Faz tumultuar o salão.
Lá fora, alegre e gabola,
Nun terreiro de café,
Ao rude som da viola,
A caboclada rebola
Num tremendo bate-pé!
A filha do Zé-Moreira
É o mimo deste São João;
À luz da rubra fogueira,
Requebra a guapa trigueira
Ao lado de Chico Peão.
Candoca, a noiva do Jango,
Baila num passo taful;
É a flor que, nesse fandango,
Tem lábios cor de morango,
Vestido de chita azul.
No sapateio se nota,
Aos risos dos que lá estão,
Nhô Lau, de esporas e bota.
Dançando junto à nhá Cota,
Viúva do Conceição….
A voz do pinho que chora,
Por sob a paz do luar,
Fremindo vai, noite afora,
Essa alegria sonora
Da caboclada a bailar!
E do salão, qua ainda brilha
Num faiscante esplendor,
Chegam os sons da quadrilha,
Que alguém ao piano dedilha
Com indomável furor.
E no sarau campezino,
Nessa festa alegre e chã
Ruge a voz do Saturnino,
Que grita, esgalgado e fino:
“Balancez! Tour! En avant...”
(Paulo Setúbal)
- A Luiz Piza Sob -
É noite… O santo famoso,
O doce, o meigo S. João,
Tivera um dia glorioso,
Dia de festa e de gozo,
Que encheu de estrondo o sertão.
Já cedo, em meio aos clamores,
Aos vivas do poviléu,
Lindo, enramado de flores,
Um mastro de quentes cores,
Subira em triunfo ao céu!
E agora, enquanto, alva e lesta,
Palpita a lua hibernal,
Na fazenda, toda festa,
Referve a alegria honesta
Da noite tradicional.
Dentro, com grande aparato,
Brilha enfeitado o salão:
Que há, nessa festa do mato,
Pessoas de fino trato,
Chegadas para o S. João…
Destaca-se entre essa gente
A flor do mundo local:
O padre, o juiz, o intendente,
– O próprio doutor Vicente
Que é deputado estadual!
Ante o auditório pasmado,
Que, num enlevo, sorri,
A Isabelinha Machado
Batuca, sobre o teclado,
Uns trechos do Guarani…
Tudo o que toca e assassina,
Recebe imensa ovação;
Todos, quando ela termina,
Põem-se a exclamar: ” Que menina!
Dá gosto! Que vocação!”
E ela, entre ingênua e brejeira,
Com ares de se vingar:
” Agora, queira ou não queira,
Seu Saturnino Pereira
Há de também recitar.”
—Surge, à força o Saturnino…
Rugem palmas ao redor!
É um tipo, esgalgado e fino,
Que sabe desdde menino,
Dizer Castro Alves de cor.
Na sala, muda e tranquila,
Tombam, com chama, os versos seus;
E ele, o letrado da vila,
Ao som da velha Dalila,
Lá vai: ” Foi desgraça, meu Deus...”
Após ouvir a estupenda
Flamância do seu falar,
No amplo salão da fazenda,
Os velhos jogos de prenda
Reclamam o seu lugar.
Começa então a berlinda.
Risos. Cochichos. Zum-zum.
– De pé, donairosa e linda.
Pergunta a D. Florinda
Os dotes de cada um:
Por que razão, seu Martinho,
Foi à berlinda a Lelê?
– ” Porque olha muito ao vizinho”;
“Porque é má; porque é um anjinho”;
“Porque é vaidosa”; “porque…”
E todo o mundo, a porfia,
Põe farpas na indiscreção…
E enquanto, ingênua e sadia,
Essa campônea alegria
Faz tumultuar o salão.
Lá fora, alegre e gabola,
Nun terreiro de café,
Ao rude som da viola,
A caboclada rebola
Num tremendo bate-pé!
A filha do Zé-Moreira
É o mimo deste São João;
À luz da rubra fogueira,
Requebra a guapa trigueira
Ao lado de Chico Peão.
Candoca, a noiva do Jango,
Baila num passo taful;
É a flor que, nesse fandango,
Tem lábios cor de morango,
Vestido de chita azul.
No sapateio se nota,
Aos risos dos que lá estão,
Nhô Lau, de esporas e bota.
Dançando junto à nhá Cota,
Viúva do Conceição….
A voz do pinho que chora,
Por sob a paz do luar,
Fremindo vai, noite afora,
Essa alegria sonora
Da caboclada a bailar!
E do salão, qua ainda brilha
Num faiscante esplendor,
Chegam os sons da quadrilha,
Que alguém ao piano dedilha
Com indomável furor.
E no sarau campezino,
Nessa festa alegre e chã
Ruge a voz do Saturnino,
Que grita, esgalgado e fino:
“Balancez! Tour! En avant...”
quarta-feira, 22 de junho de 2011
RIO
(Daniel Conrade)
Além das lentes,
além dos olhos,
além da mente,
além da curva adjacente.
Ser um rio,
ser chuva,
ser peixe,
ser mar
e ser nascente.
É um fio,
é corda,
é feixe,
é vento,
é folha
e é corrente.
É um raio,
é a esfera.
É seixo,
é areia,
é terra
e é semente.
Se eu me perdi à margem,
é porque precisava de ar.
Estar perto de si, longe de ser
um náufrago esperando alguém voltar.
(Daniel Conrade)
Além das lentes,
além dos olhos,
além da mente,
além da curva adjacente.
Ser um rio,
ser chuva,
ser peixe,
ser mar
e ser nascente.
É um fio,
é corda,
é feixe,
é vento,
é folha
e é corrente.
É um raio,
é a esfera.
É seixo,
é areia,
é terra
e é semente.
Se eu me perdi à margem,
é porque precisava de ar.
Estar perto de si, longe de ser
um náufrago esperando alguém voltar.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
CERQUILHA
(Yuri Emanuel)
Sinto falta de tudo que tenho agora.
Ontem, amanhã chegou e se demora
Numa rima interior, calada
Intercalada,
Como trança ou ponto cruz.
Sinto o tempo
À têmpora,
Tempo mau,
Temporal.
Tempo.
Sinto o verso, reverso, reflexo, convexo
Matinal.
Sinto as cores e sinto falta
Sinto o bem, e passo mal
Mal passo,
Descompasso,
Me faz voltar.
E como se ordena,
Ela sentencia
“Chuva.”
E o céu se abre em cometas d’água
No rastro de luz do arco íris.
Íris,
Nos teus olhos
E nos meus,
Ires.
Se visses,
Se risses,
Se ires…
Se vão,
Se vácuo,
Sifão.
(Yuri Emanuel)
Sinto falta de tudo que tenho agora.
Ontem, amanhã chegou e se demora
Numa rima interior, calada
Intercalada,
Como trança ou ponto cruz.
Sinto o tempo
À têmpora,
Tempo mau,
Temporal.
Tempo.
Sinto o verso, reverso, reflexo, convexo
Matinal.
Sinto as cores e sinto falta
Sinto o bem, e passo mal
Mal passo,
Descompasso,
Me faz voltar.
E como se ordena,
Ela sentencia
“Chuva.”
E o céu se abre em cometas d’água
No rastro de luz do arco íris.
Íris,
Nos teus olhos
E nos meus,
Ires.
Se visses,
Se risses,
Se ires…
Se vão,
Se vácuo,
Sifão.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
MEDICINA
(Olavo Bilac)
Rita Rosa, camponesa,
Tendo no dedo um tumor,
Foi consultar com tristeza
Padre Jacinto Prior.
O Padre, com gravidade
De um verdadeiro doutor,
Diz: "A sua enfermidade
Tem um remédio: o calor...
Traga o dedo sempre quente...
Sempre com muito calor...
E há-de ver que, finalmente,
Rebentará o tumor!"
Passa um dia. Volta a Rita,
Bela e cheia de rubor...
E, na alegria que a agita,
Cai aos pés do confessor:
"Meu padre! estou tão contente!...
Que grande coisa o calor!
Pus o dedo em lugar quente...
E rebentou o tumor..."
E o padre: "É feliz, menina!
Eu também tenho um tumor...
Tão grande, que me alucina,
Que me alucina de dor...
"Ó padre! mostre o dedo,
(Diz a Rita) por favor!
Mostre! porque há-de ter medo
De lhe aplicar o calor?
Deixe ver! eu sou tão quente!....
Que dedo grande! que horror!
Ai! padre... vá... lentamente...
Vá gozando... do calor...
Parabéns... padre Jacinto!
Eu... logo... vi... que o calor...
Parabéns, padre... Já sinto
Que rebentou o tumor..."
(Olavo Bilac)
Rita Rosa, camponesa,
Tendo no dedo um tumor,
Foi consultar com tristeza
Padre Jacinto Prior.
O Padre, com gravidade
De um verdadeiro doutor,
Diz: "A sua enfermidade
Tem um remédio: o calor...
Traga o dedo sempre quente...
Sempre com muito calor...
E há-de ver que, finalmente,
Rebentará o tumor!"
Passa um dia. Volta a Rita,
Bela e cheia de rubor...
E, na alegria que a agita,
Cai aos pés do confessor:
"Meu padre! estou tão contente!...
Que grande coisa o calor!
Pus o dedo em lugar quente...
E rebentou o tumor..."
E o padre: "É feliz, menina!
Eu também tenho um tumor...
Tão grande, que me alucina,
Que me alucina de dor...
"Ó padre! mostre o dedo,
(Diz a Rita) por favor!
Mostre! porque há-de ter medo
De lhe aplicar o calor?
Deixe ver! eu sou tão quente!....
Que dedo grande! que horror!
Ai! padre... vá... lentamente...
Vá gozando... do calor...
Parabéns... padre Jacinto!
Eu... logo... vi... que o calor...
Parabéns, padre... Já sinto
Que rebentou o tumor..."
quarta-feira, 15 de junho de 2011
ADORMECIDA
(Castro Alves)
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."
(Castro Alves)
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.
'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.
De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!
E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
Pra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! - tu és a flor de minha vida!..."
terça-feira, 14 de junho de 2011
PIERROT - O MENDINGO DE AMOR
(Nalva Araújo)
Pego minha carroça
e ganho o mundo
sou artista de circo
não sou vagabundo.
Eu faço comédia,
dou cambalhota...
Engraxo sapato
tostão reivindico
sou codjuvante
meu mundo é
o circo ! No
intervalo da
peça, até
avo pinico.
Improviso
a cena
a todos
divirto.
Quem
eu sou?...
Pierrot,
o mendingo de amor...!
(Nalva Araújo)
Pego minha carroça
e ganho o mundo
sou artista de circo
não sou vagabundo.
Eu faço comédia,
dou cambalhota...
Engraxo sapato
tostão reivindico
sou codjuvante
meu mundo é
o circo ! No
intervalo da
peça, até
avo pinico.
Improviso
a cena
a todos
divirto.
Quem
eu sou?...
Pierrot,
o mendingo de amor...!
segunda-feira, 13 de junho de 2011
EU, EU MESMO
(Álvaro de Campos)
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços,
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira
Para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
Ainda que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
(Álvaro de Campos)
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços,
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira
Para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
Ainda que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
domingo, 12 de junho de 2011
DIA DOS NAMORADOS
(Joésio Menezes)
Mais um Dia dos Namorados...
Para alguns, data insignificante,
Mas para os corações apaixonados,
Dia de doar amor bastante.
Para os casais enamorados
O dia será sempre importante,
Sejam solteiros, sejam casados,
Do mais senil ao mais infante.
Mais um dia para trocar carícias,
Ganhar carinho, curtir as delícias
Que o doze de junho nos traz.
E sempre que chega esse dia
Os amantes aspiram poesia
E transpiram o perfume da paz.
(Joésio Menezes)
Mais um Dia dos Namorados...
Para alguns, data insignificante,
Mas para os corações apaixonados,
Dia de doar amor bastante.
Para os casais enamorados
O dia será sempre importante,
Sejam solteiros, sejam casados,
Do mais senil ao mais infante.
Mais um dia para trocar carícias,
Ganhar carinho, curtir as delícias
Que o doze de junho nos traz.
E sempre que chega esse dia
Os amantes aspiram poesia
E transpiram o perfume da paz.
sábado, 11 de junho de 2011
(Em substituição ao soneto CRUCIFIXO, aqui publicado e reclamado pelo autor)
Fui ousado quando, sem permissão,
o soneto CRUCIFIXO postei
neste FÃ-CLUBE qu’eu mesmo criei
aos poetas ricos d'inspiração.
Acontece que um grande puxão
de orelhas sutilmente levei
do autor, a quem eu não perguntei
se poderia publicá-lo ou não.
Não pensei que estivesse ultrajando
o autor, aparentemente brando,
tampouco os seus Direitos Autorais...
Peço desculpas ao nobre leitor
que gosta de ler aquele autor,
mas escritos seus, aqui nunca mais!
por Joésio Menezes
Fui ousado quando, sem permissão,
o soneto CRUCIFIXO postei
neste FÃ-CLUBE qu’eu mesmo criei
aos poetas ricos d'inspiração.
Acontece que um grande puxão
de orelhas sutilmente levei
do autor, a quem eu não perguntei
se poderia publicá-lo ou não.
Não pensei que estivesse ultrajando
o autor, aparentemente brando,
tampouco os seus Direitos Autorais...
Peço desculpas ao nobre leitor
que gosta de ler aquele autor,
mas escritos seus, aqui nunca mais!
sexta-feira, 10 de junho de 2011
AQUELES BEIJOS...
(Elonir Gonçalves)
Ah! Que beijos eram aqueles?...
Sem pressa, demorados,
Ternos, apaixonados,
Inebriantes...
Beijos inesperados,
Quentes, molhados,
Cheios de intenções,
Desejos, paixões...
Beijos que marcavam,
Que pediam, imploravam,
Uma garantia, uma certeza,
Que nunca terminariam.
Mas, sem saber que era o último,
Nossos lábios repetiram o ritual.
Nos entregamos àquele momento
Com a esperança que durasse para sempre.
O derradeiro beijo foi assim,
Mais um instante paradisíaco.
Nada de despedidas tristes,
Sem lágrimas derramadas.
Ainda penso naqueles beijos...
Beijos que me enfeitiçavam,
Entorpeciam meu corpo,
Embebiam-me de prazer.
Bons beijos aleatórios eram aqueles...
Anestesia para dias amargurados.
Deixavam o coração suplicante,
Viciado em beijos enamorados.
(Elonir Gonçalves)
Ah! Que beijos eram aqueles?...
Sem pressa, demorados,
Ternos, apaixonados,
Inebriantes...
Beijos inesperados,
Quentes, molhados,
Cheios de intenções,
Desejos, paixões...
Beijos que marcavam,
Que pediam, imploravam,
Uma garantia, uma certeza,
Que nunca terminariam.
Mas, sem saber que era o último,
Nossos lábios repetiram o ritual.
Nos entregamos àquele momento
Com a esperança que durasse para sempre.
O derradeiro beijo foi assim,
Mais um instante paradisíaco.
Nada de despedidas tristes,
Sem lágrimas derramadas.
Ainda penso naqueles beijos...
Beijos que me enfeitiçavam,
Entorpeciam meu corpo,
Embebiam-me de prazer.
Bons beijos aleatórios eram aqueles...
Anestesia para dias amargurados.
Deixavam o coração suplicante,
Viciado em beijos enamorados.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
SONETO A DUAS MÃOS
(Alexandre O'Neill)
A mão que me sustenta e eu sustento
é mão capaz das vinte e cinco linhas
e do selado azul de um requerimento
ou doutras diligências comesinhas...
Habituada por secretarias,
esperta, decidiu de um grave acento,
a vírgulas guindou torpes cedilhas
e mastigou papel, seu alimento...
Contraiu calos, revoltou-se às vezes,
contra certos despachos, tão soezes
que até o dedo auricular se ria...
Com dois dedos de aumento se curvava
e logo, altiva, à esquerda se mostrava...
Agora? Estão as duas na poesia...
(Alexandre O'Neill)
A mão que me sustenta e eu sustento
é mão capaz das vinte e cinco linhas
e do selado azul de um requerimento
ou doutras diligências comesinhas...
Habituada por secretarias,
esperta, decidiu de um grave acento,
a vírgulas guindou torpes cedilhas
e mastigou papel, seu alimento...
Contraiu calos, revoltou-se às vezes,
contra certos despachos, tão soezes
que até o dedo auricular se ria...
Com dois dedos de aumento se curvava
e logo, altiva, à esquerda se mostrava...
Agora? Estão as duas na poesia...
quarta-feira, 8 de junho de 2011
MINHA MUSA
(Machado de Assis)
A MUSA, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.
A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos
Que as dores que oculto me fazem trair.
A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor
A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante - meu berço infantil,
De afetos um nome na idéia me traça,
Que o eco no peito repete: - Brasil!
A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: - Catão!
O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!
(Machado de Assis)
A MUSA, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.
A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos
Que as dores que oculto me fazem trair.
A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor
A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante - meu berço infantil,
De afetos um nome na idéia me traça,
Que o eco no peito repete: - Brasil!
A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: - Catão!
O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!
terça-feira, 7 de junho de 2011
NAMORADA
(Ézio Píres)
Procure meu coração
Namorada me procure
Me procure vivo
Me procure verde
No meu verde negrume
Me procure no riso
Me procure no abraço
Me procure na glória
Me procure agora
Me procure nos rios
Me procure nos mapas
No meu sábado de folga
Me procure nos galhos
Me procure no orvalho
Me procure em tempo
Em tempo de prece
Me procure em silêncio
Em silêncio de prece
Procure meus beijos
Procure meus olhos
Me procure na dor
Namorada me procure
Procure meu coração
Namorada meu amor.
(Ézio Píres)
Procure meu coração
Namorada me procure
Me procure vivo
Me procure verde
No meu verde negrume
Me procure no riso
Me procure no abraço
Me procure na glória
Me procure agora
Me procure nos rios
Me procure nos mapas
No meu sábado de folga
Me procure nos galhos
Me procure no orvalho
Me procure em tempo
Em tempo de prece
Me procure em silêncio
Em silêncio de prece
Procure meus beijos
Procure meus olhos
Me procure na dor
Namorada me procure
Procure meu coração
Namorada meu amor.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
ORDEM E PROGRESSO
(Joésio Menezes)
Que a Justiça é cega, eu sei;
Que nada faça contra os “fortes”, é lei;
Que funciona em prol de poucos, é fato.
Que respeitam a Constituição, é mito;
Que a Ordem está em desordem, admito;
Que o Progresso está bem perto, é boato.
Que o Governo seja improbo, não se admite;
Que ele bem trabalha, há quem acredite;
Que o povo tem culpa, não duvido.
Que os desonestos dominam, é inegável;
Que a sociedade permita, é inaceitável;
Que somos enganados, é sabido.
Que o Brasil é rico, está comprovado;
Que a miséria aqui reside, fato consumado;
Que a desigualdade é social, já foi dito.
Que a política anda mal, certamente;
Que a corrupção impera, é evidente;
Que esses males tenham cura, não acredito...
(Joésio Menezes)
Que a Justiça é cega, eu sei;
Que nada faça contra os “fortes”, é lei;
Que funciona em prol de poucos, é fato.
Que respeitam a Constituição, é mito;
Que a Ordem está em desordem, admito;
Que o Progresso está bem perto, é boato.
Que o Governo seja improbo, não se admite;
Que ele bem trabalha, há quem acredite;
Que o povo tem culpa, não duvido.
Que os desonestos dominam, é inegável;
Que a sociedade permita, é inaceitável;
Que somos enganados, é sabido.
Que o Brasil é rico, está comprovado;
Que a miséria aqui reside, fato consumado;
Que a desigualdade é social, já foi dito.
Que a política anda mal, certamente;
Que a corrupção impera, é evidente;
Que esses males tenham cura, não acredito...
domingo, 5 de junho de 2011
SINTO VERGONHA DE MIM
(Ruy Barbosa)
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser e ter
que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação com o "eu"
feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade" em caminhos
eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer
a antiga posição de sempre "contestar",
voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim,
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir,
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa
manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.
(Ruy Barbosa)
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser e ter
que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação com o "eu"
feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade" em caminhos
eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer
a antiga posição de sempre "contestar",
voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim,
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir,
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa
manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.
sábado, 4 de junho de 2011
JÁ NÃO ME IMPORTO
(Fernando Pessoa)
Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.
Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei.
Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.
E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
O QUE FAZER?
(Maria Isadora Fernandes Braga)
O ar negro,
a água suja,
árvores derrubadas,
peixes mortos,
pássaros desabrigados!...
e o Homem ?
Prisão em domicílio.
A sombra sobre a cidade.
O ar sendo degradado...
Vida artificial!
Preferem o computador!
Cadê o Homem que pode sentir dor?
Sentado em casa
Vendo televisão.
Enquanto o mundo acaba em um lixão...
Mundo de pouca vida
que vai embora pelo ralo da pia!
Falta de ar: sinto!
Cadê o ar puro e limpo?
O céu azul sobre mim já não posso ver.
No lugar, fumaça negra,
que em nada me deixa crer!
Na completa escuridão
a humanidade caminha para seu fim
Sem solução!
(Maria Isadora Fernandes Braga)
O ar negro,
a água suja,
árvores derrubadas,
peixes mortos,
pássaros desabrigados!...
e o Homem ?
Prisão em domicílio.
A sombra sobre a cidade.
O ar sendo degradado...
Vida artificial!
Preferem o computador!
Cadê o Homem que pode sentir dor?
Sentado em casa
Vendo televisão.
Enquanto o mundo acaba em um lixão...
Mundo de pouca vida
que vai embora pelo ralo da pia!
Falta de ar: sinto!
Cadê o ar puro e limpo?
O céu azul sobre mim já não posso ver.
No lugar, fumaça negra,
que em nada me deixa crer!
Na completa escuridão
a humanidade caminha para seu fim
Sem solução!
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