(Luis Fernando Veríssimo)
O rouge virou blush,
O pó-de-arroz virou pó-compacto,
O brilho virou gloss.
O rímel virou máscara incolor,
A Lycra virou stretch,
Anabela virou plataforma,
O corpete virou porta-seios,
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone...
A peruca virou aplique,
interlace, megahair, alongamento...
A escova virou chapinha,
"Problemas de moça" viraram TPM,
Confete virou MM.
A crise de nervos virou estresse,
A chita virou viscose,
A purpurina virou gliter,
A brilhantina virou mousse.
Os halteres viraram bomba,
A ergométrica virou spinning,
A tanga virou fio dental,
E o fio dental virou anti-séptico bucal.
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo,
O a-la-carte virou self-service,
A tristeza, depressão,
O espaguete virou Miojo pronto,
A paquera virou pegação,
A gafieira virou dança de salão.
O que era praça virou shopping,
A areia virou ringue,
A caneta virou teclado,
O long play virou CD,
A fita de vídeo é DVD,
O CD já é MP3.
É um filho onde éramos seis,
O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail,
O namoro agora é virtual,
A cantada virou torpedo,
E do "não" não se tem medo.
O break virou street,
O samba, pagode,
O carnaval de rua virou Sapucaí,
O folclore brasileiro, halloween,
O piano agora é teclado, também.
O forró de sanfona ficou eletrônico,
Fortificante não é mais Biotônico,
Bicicleta virou Bike,
Polícia e ladrão virou counter strike.
Folhetins são novelas de TV,
Fauna e flora a desaparecer,
Lobato virou Paulo Coelho,
Caetano virou um chato.
Chico sumiu da FM e TV,
Baby se converteu,
RPM desapareceu,
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix,
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe,
A bala antes encontrada agora é perdida,
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante,
O professor é agora o facilitador,
As lições já não importam mais,
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.
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