quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?
(Arnaldo Antunes)

O que faz você feliz?
A lua, a praia, o mar,
Uma rua, passear,
Um doce, uma dança,
Um beijo ou goiabada com queijo?

Afinal, o que faz você feliz?...

Chocolate, paixão,
Dormir cedo, acordar tarde,
Arroz com feijão, matar a saudade
O aumento, a casa,
O carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?
Dormir na rede, matar a sede,
Ler ou viver um romance,
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa,
Um cafuné, café com leite, rir a toa,
Um pássaro, um parque, um chafariz
Ou será o choro que te faz feliz?
A pausa para pensar,
Sentir o vento,
Esquecer o tempo,
O céu,
O sol,
Um som,
A pessoa ou o lugar?
Agora me diz:
O que faz você feliz?

O que faz você feliz?
Aquela comida caseira,
Arroz com feijão,
Brincar a tarde inteira,
O molho do macarrão
Ou é o cheiro da cebola
Fritando que faz você feliz?
O papo com a vizinha,
O bife, a batatinha,
A goiabada com queijo,
Um doce ou um desejo?

Afinal, o que faz você feliz?...

O que faz você feliz?
Ficar de bobeira,
Assaltar a geladeira,
Comer frango com a mão,
Tomar água na garrafa,
Passar azeite no pão
Ou é namorar a noite inteira
Que faz você feliz?
Rir e brindar a toa,
Um filme, uma conversa boa,
Fazer um dia normal
Virar uma noite especial?

Afinal, o que faz você feliz?...

O que faz você feliz?
Comer morango com a mão,
Pôr açúcar no abacate,
Brincar com melão, goiaba, romã, jabuticaba
Ou é o gostinho de infância que faz você feliz?
Cuspir sementes de melancia,
Falar besteira, ficar sem fazer nada,
Plantar bananeira
Ou comer banana amassada?

Afinal, o que faz você feliz?...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

SABOR NORDESTINO
(Lilia Diniz)

Se me queres cajuí,
desejo ser doce e raro,
deixar no teu corpo o cheiro
dos cajueiros nordestinos.

Desejo ser cajuína,
saciar tua sede
como os beijos sonoros
dos passarinhos empapuçados.

Desejo ser “pé-de-tonel”,
embriagar teus sentidos,
aquecer teu corpo
com meu pequeno caju em flor.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

LUA ADVERSA
(Cecília Meireles)

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DESEJO
(Casimiro de Abreu)

Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só' por mim palpitasse
De amor em terna expansão;
Do peito calara as mágoas,
Bem feliz eu era então!

Se essa mulher fosse linda
Como os anjos lindos são,
Se tivesse quinze anos,
Se fosse rosa em botão,
Se inda brincasse inocente
Descuidosa no gazão;


Se tivesse a tez morena,
Os olhos com expressão,
Negros, negros, que matassem,
Que morressem de paixão,
Impondo sempre tiranos
Um jugo de sedução;

Se as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E que caíssem formosas
Ao sopro da viração,
Sobre uns ombros torneados,
Em amável confusão;

Se a fronte pura e serena
Brilhasse d'inspiração,
Se o tronco fosse flexível
Como a rama do chorão,
Se tivesse os lábios rubros,
Pé pequeno e linda mão;

Se a voz fosse harmoniosa
Como d'harpa a vibração,
Suave como a da rola
Que geme na solidão,
Apaixonada e sentida
Como do bardo a canção;

E se o peito lhe ondulasse
Em suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na mais branda comoção
Tesouros de seios virgens,
Dois pomos de tentação;

E se essa mulher formosa
Que me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse de amor um vulcão;
Por ela tudo daria...
— A vida, o céu, a razão!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DESENCANTO
(Delasnieve Daspet)

Ah... te dizer como?
Como te contar da saudade
Que sinto e que nao sei de
Que ou de quem?
Noite após noite,
Dia após dia a sensaçao de
Que algo virá,
E nada surge no horizonte.

Como dizer
Se nem eu entendo e
Como ouso pensar que
Alguem me entendera?

Fico esperando a dobra do tempo
Ele haverá de contar-me
O que me fora dito e
Que na caminhada... esqueci!

Sei apenas que espero
Um reencontro com o passado
Onde antigos débitos
Deverão ser ressarcidos
Tenho seguido esta busca
Por veredas intermináveis.

Abri minha vida,
Forrei minha cama,
Cuidei do cansaço
Reparti meu pão, mas
Permaneço em desencanto.

O futuro - o sonho –
Sugou meu corpo,
Encolheu minh'alma,
É desesperança,
Não se realizou!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

POEMA EM CHAMAS
(Madalena Barranco)

No centro do coração
sou teu pedaço de estrela.

Do Sol em chamas eu nasci
até que um dia tu me fizeste sorrir,
e minha face ardente voltou a ruborizar
o rosto de um ser humano.

Eu sou o Fogo vivente
e permaneço dançante em tua alegria
dentro de cálida atitude, entre
o abraço de uma mulher e um Deva
do calor eterno,
partícula que Sou
de cometa feliz em viagem
pelo Universo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ATRAÇÃO
(Cassiano Nunes)

Não me canso de olhar
o cinema das nádegas.

Mistério do redondo:
por que transverbera?
o que me obceca?

No contorno da onda,
preciosa borracha,
o compasso dos lábios
em voluptuoso traço.

O que consideras
cacto aberrante,
talvez não passe
de matiz do gosto.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DOIS QUADROS
(Patativa do Assaré)

Na seca inclemente do nosso Nordeste,
O sol é mais quente e o céu mais azul
E o povo se achando sem pão e sem veste,
Viaja à procura das terra do Sul.

De nuvem no espaço, não há um farrapo,
Se acaba a esperança da gente roceira,
Na mesma lagoa da festa do sapo,
Agita-se o vento levando a poeira.

A grama no campo não nasce, não cresce:
Outrora este campo tão verde e tão rico,
Agora é tão quente que até nos parece
Um forno queimando madeira de angico.

Na copa redonda de algum juazeiro
A aguda cigarra seu canto desata
E a linda araponga que chamam Ferreiro,
Martela o seu ferro por dentro da mata.

O dia desponta mostrando-se ingrato,
Um manto de cinza por cima da serra
E o sol do Nordeste nos mostra o retrato
De um bolo de sangue nascendo da terra.

Porém, quando chove, tudo é riso e festa,
O campo e a floresta prometem fartura,
Escutam-se as notas agudas e graves
Do canto das aves louvando a natura.

Alegre esvoaça e gargalha o jacu,
Apita o nambu e geme a juriti
E a brisa farfalha por entre as verduras,
Beijando os primores do meu Cariri.

De noite notamos as graças eternas
Nas lindas lanternas de mil vagalumes.
Na copa da mata os ramos embalam
E as flores exalam suaves perfumes.

Se o dia desponta, que doce harmonia!
A gente aprecia o mais belo compasso.
Além do balido das mansas ovelhas,
Enxames de abelhas zumbindo no espaço.

E o forte caboclo da sua palhoça,
No rumo da roça, de marcha apressada
Vai cheio de vida sorrindo, contente,
Lançar a semente na terra molhada.

Das mãos deste bravo caboclo roceiro
Fiel, prazenteiro, modesto e feliz,
É que o ouro branco sai para o processo
Fazer o progresso de nosso país.

domingo, 19 de setembro de 2010

A MEDUSA DE FOGO
(Cassiano Ricardo)

A simples bulha surda
Do meu coração batendo
Poderá te acordar.
Mesmo a penugem da lua
Que cai sobre o ombro nu
Das árvores, tão de leve,
Poderá te acordar.

A simples caída da bolha
D'água sobre a folha,
Por ser fria como a neve,
Poderá te acordar.
Só porque a rosa lembra
Um grito vermelho,
Retiro-a de diante do espelho
Porque — de tão rubra —
Poderá te acordar.


E se nasce a manhã
Calço-lhe logo pés de lã,
Porque ela, com seus pássaros,
Poderá te acordar.
Mesmo o meu maior silêncio,
O meu mudo pé-ante-pé,
De tão mudo que é,
Não irá te acordar?

Ó medusa de fogo,
Conserva-te dormida.
Com o teu fogo ruivo e meu,
Qual monstruosa ferida.
Como data esquecida.
Como aranha escondida
Num ângulo da parede.
Como rima água-marinha
Que morreu de sede.

E eu serei tão breve
Que, um dia, deixarei
Também, até de respirar,
Para não te acordar.
ó medusa de fogo,
Dormida sob a neve!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ATOBÁ
(José Geraldo Pires de Melo)

Da janela, acompanho
A grande agilidade
Das asas experientes,
Riscando e espaço
Nas mil acrobacias
De um balé majestoso!
Em cima,
O céu sem rumo;
Embaixo,
O mar tranquilo,
Que levemente
O vento ondula.
Atraídos
Pelos peixes incautos,
Os atobás
São setas pontiagudas
Por si mesmas
Disparadas,
Que, em certeiros mergulhos,
Sob as águas,
Encontram seu sustento.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

AH, QUEM ME DERA
(Tom Jobim)

Ah, quem me dera ser poeta
Pra cantar em seu louvor
Belas canções, lindos poemas,
Doces frases de amor...

Infelizmente,
Como não aprendi o A-B-C,
Eu faço samba de ouvido pra você.

Depois de muitas frases lapidar,
Eu percebi que as rimas que preciso,
Essas rimas esqueci;
E que o verbo amar
Não se conjuga sem você.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

TECENDO A MANHÃ
(João Cabral de Melo Neto)

Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O CÉU E A TERRA
(José de Alencar)

Pelos montes
que a Lua prateava
teu vago olhar
correu fagueira a vista.

Tudo admiravas
tudo, o céu e a terra,
eu resumia em ti
um Deus artista.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

POEMA À BOCA FECHADA
(José Saramago)

Não direi
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

domingo, 12 de setembro de 2010

MULHERES
(Toninho Geraes)

Já tive mulheres
De todas as cores,
De várias idades,
De muitos amores;
Com umas até
Certo tempo fiquei,
Pra outras apenas
Um pouco me dei.

Já tive mulheres
Do tipo atrevida,
Do tipo acanhada,
Do tipo vivida,
Casada, carente,
Solteira, feliz...
Já tive donzela
E até meretriz!...

Mulheres cabeça
E desequilibradas,
Mulheres confusas,
De guerra e de paz,
Mas nenhuma delas
Me fez tão feliz
Como você me faz.

Procurei
Em todas as mulheres
A felicidade,
Mas eu não encontrei
E fiquei na saudade.
Foi começando bem,
Mas tudo teve um fim...

Você é
O Sol da minha vida,
A minha vontade.
Você não é mentira!
Você é verdade,
É tudo que um dia
Eu sonhei pra mim!...

sábado, 11 de setembro de 2010

REVOLTA
(Wilson Gonçalves)


Vento, leva-me em tuas asas
Quero fugir das desgraças
Deste mundo tenebroso

Não sou covarde nem medroso
Mas também não sou feliz
Pois a vida me negou
Aquilo que mais eu quis.


Sonhei com a verdade
Busquei a sinceridade
E jamais as encontrei
Só achei a falsidade
Nos lugares por onde andei

Na verdade ouvi mentira;
No amor, desilusão;
No sorriso, a falsidade;
No olhar, a traição.

Agora, desiludido,
Já não posso nem sonhar,
A não ser que mude o mundo
Ou meu jeito de pensar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O CIO DA TERRA
(Milton Nascimento e Chico Buarque)

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão.

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel,
Se lambuzar de mel.

Afagar a terra,
Conhecer os desejos da terra...
Cio da terra, propícia estação
De fecundar o chão.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

CARRO DE BOI
(Antonio Vítor)

Tarde da vida quando se amontoa os anos
debruçado em desenganos da minha desilusão,
fico espiando da janela do presente
retalhos de antigamente que me dói como ferrão.

Vai, boi penacho; puxa o carro, boi carreiro,
companheiro de viagem nas quebradas do sertão,
leva essa carga, rasga o barro do caminho,
se couber leva um pouquinho de mágoa desse peão.

Peão que chora quando vê o sol baixando
e um carro de boi cantando seu gemido de paixão,
sai num suspiro meu gemido solitário
e desfia o meu rosário em contas de solidão.

Sou um carreiro vencido pelo cansaço,
mas me lembro do chumaço, da chaveia e dos cocão,
eixo e fueiro, cabeçalho, cheda e mesa,
velho tempo de riqueza que virou recordação.

Ainda me lembro recavem e o pigarro,
cunha na roda do carro, cambota, arreia e meião,
chapa esse cravo, canzil, brocha e tamboeiro
o ajoujo, a tiradeira, argola, canga e cambão.

Vai, boi Penacho, puxa o carro e vai embora,
já venceu a minha hora, terminou minha missão,
leva essa carga de tristeza que me invade,
se couber leva a saudade que me aperta o coração.

Vai, boi Penacho; puxa o carro, boi Carreiro,
companheiro de viagem nas quebradas do sertão,
leva essa carga rasga o barro do caminho,
se couber leva um pouquinho da mágoa desse peão.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

E TUDO MUDOU...
(Luis Fernando Veríssimo)

O rouge virou blush,
O pó-de-arroz virou pó-compacto,
O brilho virou gloss.

O rímel virou máscara incolor,
A Lycra virou stretch,
Anabela virou plataforma,
O corpete virou porta-seios,
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone...

A peruca virou aplique,
interlace, megahair, alongamento...
A escova virou chapinha,
"Problemas de moça" viraram TPM,
Confete virou MM.

A crise de nervos virou estresse,
A chita virou viscose,
A purpurina virou gliter,
A brilhantina virou mousse.

Os halteres viraram bomba,
A ergométrica virou spinning,
A tanga virou fio dental,
E o fio dental virou anti-séptico bucal.

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo,
O a-la-carte virou self-service,
A tristeza, depressão,
O espaguete virou Miojo pronto,
A paquera virou pegação,
A gafieira virou dança de salão.

O que era praça virou shopping,
A areia virou ringue,
A caneta virou teclado,
O long play virou CD,
A fita de vídeo é DVD,
O CD já é MP3.

É um filho onde éramos seis,
O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail,
O namoro agora é virtual,
A cantada virou torpedo,
E do "não" não se tem medo.

O break virou street,
O samba, pagode,
O carnaval de rua virou Sapucaí,
O folclore brasileiro, halloween,
O piano agora é teclado, também.

O forró de sanfona ficou eletrônico,
Fortificante não é mais Biotônico,
Bicicleta virou Bike,
Polícia e ladrão virou counter strike.

Folhetins são novelas de TV,
Fauna e flora a desaparecer,
Lobato virou Paulo Coelho,
Caetano virou um chato.

Chico sumiu da FM e TV,
Baby se converteu,
RPM desapareceu,
Elis ressuscitou em Maria Rita?

Gal virou fênix,
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe,
A bala antes encontrada agora é perdida,
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante,
O professor é agora o facilitador,
As lições já não importam mais,
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

ESPERANÇA
(Miguel de Cervantes)

Nesta rua jaz minha Esperança,
A quem de corpo e alma adoro;
Esperança de vida e tesouro,
Pois não a tem quem não a alcança.

Se a alcanço, tal será minha andança,
Que não invejo o francês, o índio, o mouro.
Portanto, teu favor galhardo imploro,
Cupido, deus de toda doce folgança.

Que embora seja esta Esperança tão pequena,
De anos apenas dezenove,
Quem a alcance será um gigante.


Cresça o incêndio, pois vale a pena,
Oh! Esperança, ninguém me demove
De estar a teu serviço vigilante.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SONETO 17
(William Shakespeare)

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

sábado, 4 de setembro de 2010

MINHA MUSA
(Machado de Assis)

A MUSA, que inspira meus tímidos cantos,
É doce e risonha, se amor lhe sorri;
É grave e saudosa, se brotam-lhe os prantos.
Saudades carpindo, que sinto por ti.

A Musa, que inspira-me os versos nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,
Sufoca-me os tristes e longos gemidos
Que as dores que oculto me fazem trair.

A Musa, que inspira-me os cantos de prece,
Que nascem-me d’alma, que envio ao Senhor.
Desperta-me a crença, que às vezes ‘dormece
Ao último arranco de esp’ranças de amor

A Musa, que o ramo das glórias enlaça,
Da terra gigante - meu berço infantil,
De afetos um nome na idéia me traça,
Que o eco no peito repete: - Brasil!

A Musa, que inspira meus cantos é livre,
Detesta os preceitos da vil opressão,
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,
Na lira engrandece, dizendo: - Catão!

O aroma de esp’rança, que n’alma recende,
É ela que aspira, no cálix da flor;
É ela que o estro na fronte me acende,
A Musa que inspira meus versos de amor!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

VIAGEM ÀS FRONTEIRAS DO UNIVERSO
(Xiko Mendes)

Se algum dia sonhei com
O impossível, acreditem:
Foi porque quis
Beijar as estrelas,
Seduzir as flores,
Assustar o vento,
Passar as mãos na
Superfície dos céus...
E ainda não desisti, porque
Tenho apenas um sonho:
O de abraçar o Infinito!!!

Antes que tudo nos pareça
Se aproximar do fim;
Que as estrelas sejam sugadas
Por buracos negros;
Que as flores murchem;
Antes que Acabe a primavera;
Que o vento leve o último desejo de mim,
Que os céus desabem
Sobre o teto da minha existência;
Meu percurso em torno do Infinito
Ainda será menor que a distância
Entre as reações de um pessimista
E a Minha Esperança!!!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CORPO DE MULHER
(Joésio Menezes)

Deleito-me enquanto observo-o.
E com os olhos famintos
percorro suas curvas sinuosas que,
por meio da maciez da sua pele,
me levam ao obsceno delírio
antes mesmo de alcançar
a genitália que, sedenta de amor,
me espera para a cópula.

E nas saliências gêmeas
do seu busto e da região glútea,
perco-me ante o desejo de saciar
a sede libidinosa de beijá-las
e sentir, nos meus lábios,
o roçar da sua pelugem eriçada
e umedecida pelo suor
expelido com calor do estrogênio.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

PÉTALA
(Djavan)

O seu amor
Reluz
Que nem riqueza
Asa do meu destino
Clareza do tino
Pétala
De estrela caindo
Bem devagar...

Oh! meu amor!
Viver
É todo sacrifício
Feito em seu nome
Quanto mais desejo
Um beijo, um beijo seu
Muito mais eu vejo
Gosto em viver.

Por ser exato
O amor não cabe em si
Por ser encantado
O amor revela-se
Por ser amor
Invade
E fim!...