sábado, 28 de maio de 2011

A BUNDA
(Carlos Drummond de Andrade)

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo,
nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo,
a bunda basta-se.
Existe algo mais?
Talvez os seios!...
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio.
Anda por si na cadência mimosa,
no milagre de ser duas em uma,
plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se.
Montanhas avolumam-se, descem.
Ondas batendo numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda.
Vai feliz na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda

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