quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

OS ANJOS DE AUGUSTOS
(Marina Mara)

Os Anjos de Augustos são anjos caídos
De asas corroídas pela peste voraz
Que nasce do ego e dos sonhos idos
Do tipo que alimentava e agora jaz

Os escarros e os escárnios bradavam
De modo a ensurdecer a sociedade
Que por incompetência, só o maldiziam
Como se podre não fosse sua banalidade

Os seres noturnos são transparentes
Têm hábitos que refletem o avesso
Já os honrados cidadãos imponentes
Dissimulam sua natureza a todo preço

Os Anjos de Augusto, sinônimo de agosto
Esses sim caíram direto aqui no inferno
Para mostrar das inverdades o seu oposto
E toda a realeza que habita seu lado interno

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

POEMA DE SETE FACES
(Carlos Drummond de Andrade)

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos , raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer,
mas essa lua,
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ROSA E LÍRIO
(Almeida Garret)

A rosa
É formosa,
Bem sei.
Porque lhe chamam – flor
D'amor,
Não sei.

A flor,
Bem de amor
É o lírio;
Tem mel no aroma, – dor
Na cor
O lírio.

Se o cheiro
É fagueiro
Na rosa;
Se é de beleza – mor
Primor
A rosa:

No lírio
O martírio
Que é meu
Pintado vejo: – cor
E ardor
É o meu.

A rosa
É formosa,
Bem sei...
E será de outros flor
D'amor...
Não sei.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

SONETO DA FELICIDADE
(Odylo Costa Filho)

Não receies, amor, que nos divida
Um dia a treva de outro mundo, pois
Somos um só, que não se faz em dois
Nem pode a morte o que não pode a vida.

A dor não foi em nós terra caída
Que de repente afoga, mas depois
Cede à força das águas. Deus dispos
Que ela nos encharcasse indissolvida.

Molhamos nosso pão cotidiano
Na vontade de Deus, aceita e clara,
Que nos fazia para sempre um.

E de tal forma o próprio ser humano
Mudou-se em nós que nada mais separa
O que era dois e hoje é apenas um.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FUXICO DE PASSARIM
(Lília Diniz)

Cadê rouxinol
cadê bico de brasa
cadê tico-tico
cadê fogo pagou
será que de tanto
ouvir meu penar
avoaram e se foram
buscar meu amor

Cadê jaçanã
cadê bem-te-vi
cadê sabiá
que hoje não cantou
será que de tanto
ouvir meu lamentar
avoaram e se foram
buscar meu amor

Que todo mundo sabe
periquito já contou
arara já deu notícia
João de barro espalhou
Juriti anda dizendo
que tou rouxinha de amor

sábado, 18 de dezembro de 2010

A FLOR DO MARACUJÁ
(Fagundes Varela)

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do Sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!

Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá.

Pelas tranças da mãe-d'água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá.

Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!

Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas
Que falam de Jeová!
Pela lança ensanguentado
Da flor do maracujá!

Por tudo que o céu revela!
Por tudo que a terra dá
Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está!..
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em - a –
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O BEIJA-FLOR
(Tobias Barreto)

Era uma moça franzina,
Bela visão matutina
Daquelas que é raro ver,
Corpo esbelto, colo erguido,
Molhando o branco vestido
No orvalho do amanhecer.

Vede-a lá: tímida, esquiva...
Que boca! é a flor mais viva,
Que agora está no jardim;
Mordendo a polpa dos lábios
Como quem suga o ressábio
Dos beijos de um querubim!

Nem viu que as auras gemeram,
E os ramos estremeceram
Quando um pouco ali se ergueu...
Nos alvos dentes, viçosa,
Parte o talo de uma rosa,
Que docemente colheu.

E a fresca rosa orvalhada,
Que contrasta descorada,
Do seu rosto a nívea tez,
Beijando as mãozinhas suas,
Parece que diz: nós duas!...
E a brisa emenda: nós três! ...

Vai nesse andar descuidoso,
Quando um beija-flor teimoso
Brincar entre os galhos vem,
Sente o aroma da donzela,
Peneira na face dela,
E quer-lhe os lábios também

Treme a virgem de surpresa,
Leva do braço em defesa,
Vai com o braço a flor da mão;
Nas asas d’ave mimosa
Quebra-se a flor melindrosa,
Que rola esparsa no chão.

Não sei o que a virgem fala,
Que abre o peito e mais trescala
Do trescalar de uma flor:
Voa em cima o passarinho...
Vai já tocando o biquinho
Nos beiços de rubra cor.

A moça, que se envergonha
De correr, meio risonha
Procura se desviar;
Neste empenho os seios ambos
Deixa ver; inconhos jambos
De algum celeste pomar! ...

Forte luta, luta incrível
Por um beijo! É impossível
Dizer tudo o que se deu.
Tanta coisa, que se esquece
Na vida! Mas me parece
Que o passarinho venceu! ...

Conheço a moça franzina
Que a fronte cândida inclina
Ao sopro de casto amor:
Seu rosto fica mais lindo,
Quando ela conta sorrindo
A história do beija-flor.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A LÁGRIMA
(Augusto dos Anjos)

Faça-me o obséquio de trazer reunidos
Cloreto de sódio, água e albumina...
Ah! Basta isto, porque isto é que origina
A lágrima de todos os vencidos!

"A farmacologia e a medicina
Com a relatividade dos sentidos
Desconhecem os mil desconhecidos
Segredos dessa secreção divina"


O farmacêutico me obtemperou.
Vem-me então à lembrança o pai Yoyô
Na ânsia física da última eficácia...

E logo a lágrima em meus olhos cai.
Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai
Do que todas as drogas da farmácia!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ARARAS VERSÁTEIS
(Hilda Hilst)

Araras versáteis.
Prato de anêmonas.
O efebo passou
entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia
na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte,
louça e umedecida laca
e vergastou a cona
com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se
esfuçando-lhe os meios
e uma língua de agulha,
de fogo, de molusco
empapou-se de mel
nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase
de gosmas e de lírios
quando no instante alguém,
numa manobra ágil
de jovem marinheiro,
Arrancou do efebo
as luzidias calças,
suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os três
entre os pios dos pássaros,
das araras versáteis
e das meninas trêfegas.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

RECORDO AINDA
(Mario Quintana)

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

domingo, 12 de dezembro de 2010

O SUPÉRFLUO E O NECESSÁRIO
(Chico Xavier)

Uns queriam um emprego melhor;
outros, só um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta;
outros, só uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena;
outros, apenas viver.
Uns queriam pais mais esclarecidos;
outros, ter pais.
Uns queriam ter olhos claros;
outros, enxergar.
Uns queriam ter voz bonita;
outros, falar.
Uns queriam silêncio;
outros, ouvir.
Uns queriam sapato novo;
outros, ter pés.
Uns queriam um carro;
outros, andar.
Uns queriam o supérfluo;
outros, apenas o necessário.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A LISTA
(Oswaldo Montenegro)

Faça uma lista de grandes amigos,
quem você mais via dez anos atrás...
Quantos você ainda vê todo dia ?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
era o melhor que havia em você?
Quantas mentiras você condenava,
quantas você teve que cometer ?
Quantas canções que você não cantava,
hoje assobia pra sobreviver ...
Quantos segredos que você guardava,
hoje são bobos, ninguém quer saber ...
Quantas pessoas que você amava,
hoje acredita que amam você?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A VELHICE
(Olavo Bilac)

O neto:
Vovó, por que não tem dentes?
Por que anda rezando só.
E treme, como os doentes
Quando têm febre, vovó?
Por que é branco o seu cabelo?
Por que se apóia a um bordão?
Vovó, porque, como o gelo,
É tão fria a sua mão?
Por que é tão triste o seu rosto?
Tão trêmula a sua voz?
Vovó, qual é seu desgosto?
Por que não ri como nós?

A Avó:
Meu neto, que és meu encanto,
Tu acabas de nascer...
E eu, tenho vivido tanto
Que estou farta de viver!
Os anos, que vão passando,
Vão nos matando sem dó:
Só tu consegues, falando,
Dar-me alegria, tu só!
O teu sorriso, criança,
Cai sobre os martírios meus,
Como um clarão de esperança,
Como uma benção de Deus!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

RECEITA
(Nicolas Behr)

Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções do Beatles

Modo de preparar:
dissolva os sonhos eróticos
nos 2 litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração

leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos
de gerações às esperanças
perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos Beatles
o mesmo processo usado com os
sonhos eróticos mas desta vez
deixe ferver um pouco mais e
mexa até dissolver

parte do sangue pode ser
substituído por suco de
groselha mas os resultados
não serão os mesmos

sirva o poema simples
ou com ilusões

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

GARGALHADA
(Cecília Meireles)

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...
Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DOIS ANJOS
(Gabriela Mistral)

Não é um anjo apenas
que me afeiçoa e guia.
Como embalam as duas
orlas ao mar, embalam-me
o anjo que traz o gozo
e o que traz a agonia;
o que tem asas voantes
e o que tem asas fixas.
Eu sei, quando amanhece,
qual vai reger-me o dia,
se o anjo cor de chama,
se o anjo cor de cinza.
E dou-me a eles como
alga às ondas, contrita.
Voaram uma só vez
com asas unidas:
foi o dia do amor,
o da epifania.
Fundiram-se numa asa
as asas inimigas
e apertaram o nó
que junta à morte a vida

sábado, 4 de dezembro de 2010

RETRATO DO POETA QUANDO JOVEM
(José Saramago)

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AUTOPSICOGRAFIA
(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

POEMINHA AMOROSO
(Cora Coralina)

Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso
que te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ARDILOSA CONCHA
(Raimunda Almeida)


Minha alma fechou-se em ardilosa concha,
Isolou-se em oceano, fraca e desnuda,
Afastou-se do comando firme, divinal,
Tornou-se cega, surda e muda.

Definhou em “cabulosa” reclusão,
Perdeu viveza e etéreo esplendor.
Nem vagar pode, pois estava presa
A uma tormentosa existência sem amor.


Mesmo enfraquecida, constatou a tempo
Quanta falta o sublime lhe fazia.
Então abriu devagarzinho a concha
E ouviu uma voz que lhe dizia:

“Alma é luz grandiosa, é estandarte
Medianeiro, ostensivo, revelador
Que nos tira da condição irracional
E nos torna semelhante ao Criador.”

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

BARRIGA
(Mary Anita Pina Marques)

Barriga
Barriga do amor
Barriga, de que me queixo?
Barriga que dá na vista
Barriga depois da briga
Barriga que dá direitos...
Barriga sem preconceitos
Barriga bonita!
Barriga... barrigas.


E quantas há com barriga?
E quantos querem estar na barriga?
E quantas querem estar de barriga?
E quantos rejeitam barriga?

Parir!
Alimentar
Ou ser a espiã do mundo?
De medo chora pra perder
A barriga!
Ou choro ouvir
Ao sair da barriga...

Barriga não há defeito!
Barriga, te curto tanto
que de vida me encanto
e de ti me enfeito!

domingo, 28 de novembro de 2010

NÃO!... NÃO CANTAREI!
(Xiko Mendes)

Não! Eu não cantarei essa Cidade apolítica
Que é controlada por alguns Seres Estúpidos.
Cantarei para quem tem consciência crítica
E vota sempre naqueles que têm escrúpulos!

Não! Não cantarei essa Cidade degradante
De quem manipula politicamente os Pobres.
Mas cantarei hinos de cidadania triunfantes
Enaltecendo nos humildes os valores nobres!


Não! Não cantarei a Cidade dos indiferentes
Cujos interesses míopes destroem a natureza;
Tudo porque em seus instintos deprimentes
Os segredos da vida são expressos em riquezas.

Não! Não cantarei um Município Abstrato
Das promessas impossíveis e sem lógica.
Mas cantarei sonhos realizáveis e imediatos
Dos que combatem as atitudes demagógicas.

Não! Não cantarei essa Cidade dos espertos,
Que enganam o Povo só para ficar no Poder,
Cometendo ilicitudes e outros desvios éticos,
Impedindo a Comunidade de se desenvolver.

Não! Não cantarei hinos de louvor a Demagogo
Porque é pessoa que trata, não cumpre e mente.
Cantarei sempre contra político inescrupuloso,
Que é verme-parasita corroendo a nossa Gente!

sábado, 27 de novembro de 2010

QUANDO ELA FALA
(Machado de Assis)

Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala.

Meu coração dolorido
As suas mágoas exala,
E volta ao gozo perdido
Quando ela fala.

Pudesse eu eternamente,
Ao lado dela, escutá-la,
Ouvir sua alma inocente
Quando ela fala.

Minha alma, já semimorta,
Conseguira ao céu alçá-la
Porque o céu abre uma porta
Quando ela fala.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

QUARENTA ANOS
(Mário de Andrade)

A vida é pra mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso;
eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
disso, persisto em me enganar... Eu ouso
dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo


Seria, agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!... que eu quero amar a morte
com o mesmo engano com que amei a vida.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

NOIVADO ESTRANHO
(Florbela Espanca)


O luar branco, um riso de Jesus,
Inunda a minha rua toda inteira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
A sacudir as pétalas de luz…

A luar é uma lenda de balada
Das que avozinhas contam à lareira,
E a Noite é uma flor de laranjeira
Que jaz na minha rua desfolhada…


O Luar vem cansado, vem de longe,
Vem casar-se co´a Terra, a feiticeira
Que enlouqueceu d´amor o pobre monge…

O luar empalidece de cansado…
E a noite é uma flor de laranjeira
A perfumar o místico noivado!…

terça-feira, 23 de novembro de 2010

AO ESQUECIMENTO
(Martha Carolina Dávila )

Cansados de inventar palavras,
de dar nome ao silêncio
para afugentar tristezas;
Cansados de olhar ao céu
rogando que chova,
que o água ou o vento
traga um gesto que nos volte a vida;
Cansados de pedir aos mortos
que culminem nossas horas,
que inundem com suas vozes
nosso leito escuro;
Cansados, por fim,
de crer em labirintos,
optamos por deixar
de interrogar esquinas,
por ignorar promessas...
Optamos, afinal, por essa eternidade
que é o esquecimento.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ÚLTIMA LÁGRIMA
(Fátima Irene Pinto)

Dia haverá que, ao acordar de manhã,
pensarei em outras coisas que não
sejam você;
que não indagarei mais o porquê;
que terei transcendido esta saudade;
que não sentirei por você mais nada,
nem ao menos amizade...

Dia haverá, que não precisarei mais
saber como você tem passado:
se feliz ou triste, se contente ou amuado;
que não perguntarei mais de você
a ninguém, porque pouco me importará
se você estiver passando mal ou bem...

Dia haverá,que não pedirei mais a Deus
que você me escreva, que me ligue,
me procure ou dê sinal de vida;
Que não abrirei mais as cartas na mesa,
no afã de encontrar uma saída;
Que não precisarei mais lhe contar
os detalhes aqui da minha lida...

Dia haverá que você estará banido
da minha mente, do meu destino,
das minhas noites insones;
Que conseguirei olhar as estrelas,
sem chorar e sem gritar seu nome;
Que terei me sobreposto
e dizimado este fadário
na última lágrima,
na última conta do meu rosário.

domingo, 21 de novembro de 2010

REALIDADE
(Adenir Oliveira)


Um rosto na multidão.
Aterrorizado,
Mascarado,
Humilhado...
Escondido na multidão.

Um rosto,
Sobre o rosto,
Do rosto.

Aquele rosto é o seu...
Rosto,
Abatido,
Desfigurado,
Cansado.

Rosto que some...
Que aparece
Na multidão,
Na escuridão,
Na solidão.

Um rosto
Marcado.
Apenas,
Um.

sábado, 20 de novembro de 2010

*APARTHEID
(Joésio Menezes)

Sou filho do apartheid,
O sofrer é meu irmão...
Soweto, sou gueto, sou preto
Vítima da segregação.
Dizem que sou inferior
E por causa da minha cor
Não me estendem a mão.


Não tenho meus direitos
Políticos ou sociais.
E até a própria liberdade
Eu não a tenho mais,
Pois fora de Soweto
Sou gueto, sou preto
Nas páginas policiais.

A violência do apartheid
Noticiada nos jornais
Mobilizou a humanidade
E por isso não sofro mais,
Mas ainda sou do gueto
E me orgulho de ser preto,
Como os meus ancestrais.

Meus filhos hoje sofrem,
Por serem filhos de um “negão”
E netos do apartheid
Que só lhes trouxe humilhação.
Sou preto... sou do gueto,
Mas a eles eu prometo
O fim da segregação.

*Ao DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

OS MEUS LIVROS
(Jorge Luis Borges)

Os meus livros
(que não sabem que existo)
são uma parte de mim,
como este rosto
de têmporas
e olhos já cinzentos
que em vão vou procurando
nos espelhos e que percorro
com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
entendo que as palavras essenciais,
as que me exprimem,
estarão nessas folhas
que não sabem quem sou,
não nas que escrevo.
Mais vale assim.
As vozes desses mortos
dir-me-ão para sempre.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PELO SILÊNCIO
(Jorge de Lima)

Pelo silêncio que a envolveu, por essa
aparente distância inatingida,
pela disposição de seus cabelos
arremessados sobre a noite escura:

pela imobilidade que começa
a afastá-la talvez da humana vida
provocando-nos o hábito de vê-la
entre estrelas do espaço e da loucura;

pelos pequenos astros e satélites
formando nos cabelos um diadema
a iluminar o seu formoso manto,

vós que julgais extinta Mira-Celi
observai neste mapa o vivo poema
que é a vida oculta dessa eterna infanta.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PARA A VERTIGEM!
(Raul de Leoni)

Alma em teu delirante desalinho,
Crês que te moves espontaneamente,
Quando és na Vida um simples rodamoinho,
Formado dos encontros da torrente!

Moves-te porque ficas no caminho
Por onde as cousas passam, diariamente:
Não é o Moinho que anda, é a água corrente
Que faz, passando, circular o Moinho...

Por isso, deves sempre conservar-te
Nas confluências do Mundo errante e vário.
Entre forças que vem de toda parte.

Do contrário, serás, no isolamento,
A espiral, cujo giro imaginário
É apenas a Ilusão do Movimento!...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A UM PASSARINHO
(Vinícius de Moraes)

Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O VOO DA AVE
(Lourdes Silva Maciel)

Voa, bela ave, ao sol e vento...
Corta o tempo e some na amplidão,
Leva contigo, no bailar das asas,
A saudade que me aperta o coração.

Voa... o teu momento é canto,
O teu lema é a liberdade,
Sente o frescor que vem das nuvens,
Esquece o estilingue da maldade.

Teu voo altivo e resoluto
É grito de revolta e de pesares.
Voa, ave, com coragem insana
Atravessa os campos, enxergando os mares.

Voa... veja apenas céu e água,
Barcos perdidos, espumas do mar...
Limpa o teu coração nos ares,
Solta o teu canto e torna a regressar.

Ó minha ave, meu hino,
Tu és para mim lealdade.
Voa na amplidão dos sonhos
Voltando no apelo da saudade!...

domingo, 14 de novembro de 2010

FELICIDADE
(Kora Lopes)

O que é a felicidade?
Onde está que ninguém a vê?
É uma rara preciosidade
Que todos querem ter
Ou apenas uma ilusão,
Nascida no coração
Daqueles pra quem o amor
É a razão da própria vida?

Não sei explicar.
Quero, porém, encontrá-la
E dar-lhe guarida
Porque deve estar escondida
Em algum lugar...

Uma vez que não sei onde se esconde,
Vou esperar
Que ela resolva aparecer,
Queira comigo encontrar-se,
Me dar a mão
E fazer morada em meu coração...

sábado, 13 de novembro de 2010

OS TEUS PÉS
(Pablo Neruda)

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.


Tua cintura e teus seios,
a duplicada púrpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010


CLASSIFICADOS
(Joésio Menezes)

Vende-se um coração apaixonado
Com quarenta e nove anos de vida.
Um coração em perfeito estado,
Mas com marcas de uma paixão bandida.

Troca-se um peito regenerado,
Mas com muitos anos de recaída,
Por outro que jamais fora afetado
Pelos males da paixão recolhida.


Procura-se um ombro que seja amigo
E que possa compartilhar comigo
As dores que nos provoca a paixão.

Aluga-se um colo aconchegante,
Que seja confiável o bastante
Para confortar o meu coração...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

EU
(Álvaro Viana)


Eu tenho amor pelo meu tipo feio,
Esguio e magro, muito magro e alto.
Às vezes fico embevecido e creio
Que o meu semblante é de terroso asfalto.

E noite adentro sonho um lago e em meio
Às águas calmas que em meu sonho exalto,
Vejo entre os astros, a mim próprio alheio,
O meu perfil tristonho de pernalto.


Entre os dois céus iguais em que me perco,
De um grande amor pelo meu Ser me cerco
Abrindo as asas deste Ideal que é meu.

E assim perdido na quimera, absorto,
Espera pela paz, depois de morto,
Quem nunca soube para quê nasceu.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ÁRIA AO VIOLÃO
(Alphonsus de Guimaraens Filho)


Que sonâmbula campânula
embala o íncola na insula
campanulando?

Cantagalo cantagálico
no áulico tez gaulesa
cantagalando.

Só, na sombra solitária
estrelinha latejante
é chama, é flor, e madruga
num rio que ri ou geme,
campanulando.

Sobre a memória madura
a cálida, a alva aurora
desce doce se incorpando,
campanulando.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

DO FRUTO DA VIDA
(Talita Prates)

Adeus dará
ao costume quase ritual
do esforço mínimo
de apenas
orar-a-ação,
prescindindo da vida
face à esperança
da promessa
do porvir?

A Deus dará
o paterno fortúnio
de já gozar a vida
- e vida em abundância
no reino
que já é desse mundo,
pois que, Onipotente,
também é Dele
o reino das terras?

Ao Deus-dará,
caminha sobre prados
ora verdejantes, ora secos;
serve-se das águas
ora tranquilas, ora revoltas.
tem o maior presente
dentro de si:
o sopro de vida
- e o fado da liberdade.

Oxalá ouvísseis a voz do Deus:
e porque estreita é a porta,
e apertado o caminho que leva à vida,
e poucos há que a encontrem*.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ELOGIO DO PECADO ...
(Bruna Lombardi)

Ela é uma mulher que goza
Celestial, sublime.
Isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
de ela ser uma mulher que goza.

Você pode persegui-la, ameaçá-la,
tachá-la, matá-la se quiser;
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.

É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos,
à ira, ao pior julgamento.
Repare, ela renasce e brota
nova, rosa.

Atravessou a história,
foi queimada viva, acusada;
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada.
Retorna inteira, maior, mais larga,
absolutamente poderosa...

domingo, 7 de novembro de 2010

SEM LIMITES
(Graciela da Cunha)


Na hora do nosso amor
nem o céu tem limites.
Somos corpo e alma.

Meu corpo responde ao seu
toque suave num delírio de prazer.

Tuas mãos suaves percorrem
meu corpo levando-me a loucura.


Sussurras em minha alma
palavras doce de amor,
entrego-me aos teus apelos
permitindo todos os nossos desejos.

sábado, 6 de novembro de 2010

OPERÁRIO VIAJANTE
(Anabe Lopes)

Eu revejo velhos vídeos
Eu refaço velhas vias
Desvios, desvãos, devaneio
Revivo momentos
Reavivo meus sonhos
Eu ouço o mar... diariamente

Insiste em meu quarto de dormir
um sol brilhante

Eu viajo o universo
a bordo de um verso; transbordo
noites e dias...

Procuro um fazedor de países
Um construtor de edifícios
Tenho barro, tijolo e cimento
Meus olhos são duas fontes
Faltam-me então as mãos do operário!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PRETO N0 NEGRO
(Jorge Amâncio)

grana preta peste negra
minha preta pérola negra
faixa preta cambio negro

negropreto
musica negra
poesia negra
artista negro

um preto
pretinho basico
pretaporter


pretonegro
negro gato
gato preto
caixa preta
buraco negro

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CISNES BRANCOS
(Alphonsus de Guimaraens)

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.

Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.

Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.

Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.

Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...

Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O BURRO
(Patativa do Assaré)


Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.

Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.


Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,

É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

SE EU FOSSE UM POETA...
(Joésio Menezes)

Se eu fosse um poeta,
Minha vida estaria completa
E minh’alma em alto-astral.
Estaria eu mais confortado,
Pois teria aqui, ao meu lado,
A musa da noite dominical.

Se eu fosse um poeta
Faria uma poesia concreta
No formato de uma estrela-guia
E a colocaria nos braços do vento
Que, mediante juramento,
Somente a Patrícia a entregaria.

Ah! se poeta eu fosse um dia!...
Alguns versos eu escreveria
E os ofereceria a Patrícia Poeta,
Mesmo sabendo que ela poderia
Responder-me, com simpatia:
“Que pena!... Não és poeta!”

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A DUAS FLORES
(Castro Alves)

São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bom como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rodas da vida,
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

domingo, 31 de outubro de 2010

CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
(Mário Quintana)

Tão bom viver dia a dia…
A vida assim, jamais cansa…
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu…
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência… esperança…
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas…

sábado, 30 de outubro de 2010

QUADRILHA
(Carlos Drummond de Andrade)


João amava Teresa
que amava Raimundo
que amava Maria
que amava Joaquim
que amava Lili
que não amava ninguém.


João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes,
que não tinha entrado na história.