quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

CANTO-TE

(Ana Hatherly)

Canto-te para que tu
definitivamente existas.
Canto o teu nome
porque só as coisas cantadas
ealmente são e só o nome pronunciado
inicia a mágica corrente.
Canto o teu nome como o homem
fazia eclodir o fogo do atrito das pedras.
Canto o teu nome como o feiticeiro
invoca a magia do remédio.
Canto o teu nome como um animal uiva,
Como os animais pequenos bebem nos regatos
Depois das grandes feras.

Canto-te,
e tu definitivamente existes
nos meus olhos sempre abertos
porque sempre os meus olhos
são os olhos da criança
que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço.

Canto-te,
e os meus olhos, sempre abertos,
são a pergunta no instante pendente
de eu te interrogar;
e interrogo as coisas em seu ser noturno,
em seu estar sombriamente presentes
na tua claridade obscura.
E como é sempre,
meus olhos abertos perscrutam-te
símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te, oh! substância...

Canto-te
para que tu existas
e eu não veja mais nada além de ti

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