CANTO-TE
(Ana
Hatherly)
Canto-te
para que tu
definitivamente
existas.
Canto
o teu nome
porque
só as coisas cantadas
ealmente
são e só o nome pronunciado
inicia
a mágica corrente.
Canto
o teu nome como o homem
fazia
eclodir o fogo do atrito das pedras.
Canto
o teu nome como o feiticeiro
invoca
a magia do remédio.
Canto
o teu nome como um animal uiva,
Como
os animais pequenos bebem nos regatos
Depois
das grandes feras.
Canto-te,
e
tu definitivamente existes
nos
meus olhos sempre abertos
porque
sempre os meus olhos
são
os olhos da criança
que
nós somos sempre
diante
da imensidão do teu espaço.
Canto-te,
e
os meus olhos, sempre abertos,
são
a pergunta no instante pendente
de
eu te interrogar;
e
interrogo as coisas em seu ser noturno,
em
seu estar sombriamente presentes
na
tua claridade obscura.
E
como é sempre,
meus
olhos abertos perscrutam-te
símbolo
de tudo o que me foge
como
apertar o ar dentro das mãos
e
querer agarrar-te, oh! substância...
Canto-te
para
que tu existas
e
eu não veja mais nada além de ti
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