(Casimiro
de Abreu)
Se
eu soubesse que no mundo
Existia
um coração,
Que
só por mim palpitasse
De
amor em terna expansão;
Do
peito calara as mágoas,
Bem
feliz eu era então!
Se
essa mulher fosse linda
Como
os anjos lindos são,
Se
tivesse quinze anos,
Se
fosse rosa em botão,
Se
inda brincasse inocente
Descuidosa
no gazão;
Se
tivesse a tez morena,
Os
olhos com expressão,
Negros,
negros, que matassem,
Que
morressem de paixão,
Impondo
sempre tiranos
Um
jugo de sedução;
Se
as tranças fossem escuras,
Lá castanhas é que não,
E
que caíssem formosas
Ao
sopro da viração,
Sobre
uns ombros torneados,
Em
amável confusão;
Se
a fronte pura e serena
Brilhasse
d'inspiração,
Se
o tronco fosse flexível
Como
a rama do chorão,
Se
tivesse os lábios rubros,
Pé
pequeno e linda mão;
Se
a voz fosse harmoniosa
Como
d'harpa a vibração,
Suave
como a da rola
Que
geme na solidão,
Apaixonada
e sentida
Como
do bardo a canção;
E
se o peito lhe ondulasse
Em
suave ondulação,
Ocultando em brancas vestes
Na
mais branda comoção
Tesouros
de seios virgens,
Dois
pomos de tentação;
E
se essa mulher formosa
Que
me aparece em visão,
Possuísse uma alma ardente,
Fosse
de amor um vulcão;
Por
ela tudo daria...
—
A vida, o céu, a razão!
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