terça-feira, 26 de junho de 2012


ENCANTO PERDIDO
(Kora Lopes)

Sem ti tudo se entristece
E toda alegria vai embora...
Sem ti a vida perde o encanto
E a minh'alma solitária chora...

Até as estrelas que eu amo tanto,
Já não brilha como outrora
Porque a tua ausência tira-lhes o brilho...

E as noites frias sem os seus enfeites
Já não me causam mais deleites
E só me enchem de muita tristeza
Pela incerteza
Que me deixaste ao partir,
Pois não sei se voltas
Ou se para sempre eu te perdi...

quinta-feira, 21 de junho de 2012


POÉTICA
(Vinícius de Moraes)

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.



Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

sábado, 16 de junho de 2012


VENTO
(Lourdes Silva)

Vento que vem de leve
Lá do verde da serra,
Diga a todos os viventes:
“Viva a paz e morra a guerra!”

Vem soprando os pesares,
Trazendo o perfume da flor,
Vem com a alegria dos justos,
Com a suavidade do amor!...

Balança a copa das árvores,
Traga herança do passado,
Diga ao homem sofredor:
“Vamos caminhar lado a lado!”

Varre o triste desemprego,
Deixa boas emoções...
Vento, refresca as feridas
Que existem nos corações!

Trazendo de volta a esperança,
Soprando leve e contente,
Veremos um novo horizonte
Nos corações dos viventes!...

segunda-feira, 11 de junho de 2012


ETERNO BOCEJAR
(Marly Bastos)

Boceja a aurora dourada, senhora do despertar,
Boceja os sonolentos na hora de levantar.

Boceja a lágrima espremida, no abrir gostoso da boca,
Boceja a idéia de se fazer alguma coisa louca.

Boceja a canção de ninar que fica meio sonâmbula,
Boceja a estrela na noite fria e trêmula.

Boceja o leito depois de momentos loucos de felicidade,
Boceja a noite quando dorme a cidade.

Boceja o desejo incontido quando saciado,
Boceja a ausência de um amor esperado.

Boceja os amantes depois de uma noite insone,
Boceja a dor na barriga de quem tem fome.

Boceja a semente pronta pra germinar,
Boceja a poesia que logo vai cadenciar.

Boceja cada pedaço de tempo esperado,
Boceja a voz que por muito tem se calado.

Boceja o segredo que não se pode contar...
A vida parece um eterno bocejar!...

quinta-feira, 7 de junho de 2012


O AMOR
(Fernando Pessoa)

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..