POEMINHA DE LOUVOR AO "STRIP-TEASE" SECULAR
(Millôr Fernandes)
Eu sou do tempo em que a mulher
Mostrar o tornozelo
Era um apelo!
Depois, já rapazinho,
vi as primeiras pernas
De mulher
Sem saia;
Mas foi na praia!
A moda avança
A saia sobe mais
Mostra os joelhos
Infernais!
As fazendas
Com os anos
Se fazem mais leves
E surgem figurinhas
Em roupas transparentes
Pelas ruas:
Quase nuas.
E a mania do esporte
Trouxe o short.
O short amigo
Que trouxe consigo
O maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
A natureza ganhando terreno
Sugeriu o biquíni,
O maiô de pequeno ficando mais pequeno
Não se sabendo mais
Até onde um corpo branco
Pode ficar moreno.
Deus,
A graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!
"A poesia é mais fina e mais filosófica do que a história; porque a poesia expressa o universo, e a história somente o detalhe." (Aristóteles)
sexta-feira, 30 de março de 2012
sábado, 24 de março de 2012
quinta-feira, 22 de março de 2012
CACHOEIRA
(Luciana Dimarzio)
Tal como água
Fluo
Mato a sede
Apago o fogo
Inundo...
Mas também
Deságuo
Dissipo
Evaporo...
E broto novamente da terra.
Às vezes
Grande lagoa
Outras tantas
Pequeno ribeirão
Às vezes
Chuva fina
Outras tantas
Tempestade com travão
Mas nunca água represada.
E assim sigo escoando,
feito cachoeira,
contornando os obstáculos
rumo ao grande oceano...
(Luciana Dimarzio)
Tal como água
Fluo
Mato a sede
Apago o fogo
Inundo...
Mas também
Deságuo
Dissipo
Evaporo...
E broto novamente da terra.
Às vezes
Grande lagoa
Outras tantas
Pequeno ribeirão
Às vezes
Chuva fina
Outras tantas
Tempestade com travão
Mas nunca água represada.
E assim sigo escoando,
feito cachoeira,
contornando os obstáculos
rumo ao grande oceano...
Por ocasião do DIA MUNDIAL DA ÁGUA, celebrado em 22 de março.
terça-feira, 20 de março de 2012
COM LICENÇA POÉTICA
(Adélia Prado)
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
(Adélia Prado)
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
domingo, 18 de março de 2012
SONHO
(Bocage)
De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido e mirrado:
Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
-Eu venho terminar tua agonia;
Morre, não penes mais, ó desgraçado!
Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:
-Emprega noutro objecto teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.
(Bocage)
De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido e mirrado:
Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
-Eu venho terminar tua agonia;
Morre, não penes mais, ó desgraçado!
Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:
-Emprega noutro objecto teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.
sexta-feira, 16 de março de 2012
SONETO PERPÉTUO
(Lourdes Neves Cúrcio)
Poetizar é dar mais cor e encanto à vida;
É externar os sentimentos mais velados;
Deixar o sonho em versos ser transformado
E a emoção em estrofes ser traduzida.
A arte de expressar o amor é do poeta
Que das mãos divinas recebeu o dom
Da inspiração de versejar em suave tom
Que toca a alma, reconforta e aquieta...
Seja o poeta aquele que irá transmitir
O que o âmago em silêncio está dizendo
E o coração está deveras a sentir.
E o ecoar dos versos vai ultrapassando
A tênue linha imaginária do horizonte
Para com o cosmos ir então se perpetuando..
(Lourdes Neves Cúrcio)
Poetizar é dar mais cor e encanto à vida;
É externar os sentimentos mais velados;
Deixar o sonho em versos ser transformado
E a emoção em estrofes ser traduzida.
A arte de expressar o amor é do poeta
Que das mãos divinas recebeu o dom
Da inspiração de versejar em suave tom
Que toca a alma, reconforta e aquieta...
Seja o poeta aquele que irá transmitir
O que o âmago em silêncio está dizendo
E o coração está deveras a sentir.
E o ecoar dos versos vai ultrapassando
A tênue linha imaginária do horizonte
Para com o cosmos ir então se perpetuando..
terça-feira, 13 de março de 2012
AOS CORAÇÕES QUE SOFREM
(Olavo Bilac)
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
(Olavo Bilac)
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
quinta-feira, 8 de março de 2012
HAJA O QUE HOUVER
(Joésio Menezes)
Haja o que houver,
A sábia mulher
Do salto jamais desce,
Pois sabe da importância
De se manter a elegância
Acima do estresse.
Ela sabe, também,
Que o salto a mantém
Inda mais imponente.
Mas se dele descer,
Ela não deixará de ser
Uma mulher inteligente
Cuja mente brilhante
Não para um instante
De a todos encantar...
Haja o que houver,
Dos fascínios da mulher
Não me canso de falar.
(Joésio Menezes)
Haja o que houver,
A sábia mulher
Do salto jamais desce,
Pois sabe da importância
De se manter a elegância
Acima do estresse.
Ela sabe, também,
Que o salto a mantém
Inda mais imponente.
Mas se dele descer,
Ela não deixará de ser
Uma mulher inteligente
Cuja mente brilhante
Não para um instante
De a todos encantar...
Haja o que houver,
Dos fascínios da mulher
Não me canso de falar.
Às MULHERES, por ocasião do DIA INTERNACIONAL DA MULHER
terça-feira, 6 de março de 2012
NÃO SE MATE
(Carlos Drummond de Andrade)
Carlos, sossegue!...
O amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh!.. não se mate!
Reserve-se todo
para as bodas que ninguém
sabe quando virão,
se é que virão!...
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
(Carlos Drummond de Andrade)
Carlos, sossegue!...
O amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh!.. não se mate!
Reserve-se todo
para as bodas que ninguém
sabe quando virão,
se é que virão!...
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
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