domingo, 25 de julho de 2010

A VALSA

(Casimiro de Abreu)



Tu, ontem,


Na dança


Que cansa,


Voavas


Co'as faces


Em rosas


Formosas


De vivo,


Lascivo


Carmim;


Na valsa


Tão falsa,


Corrias,


Fugias,


Ardente,


Contente,


Tranqüila,


Serena,


Sem pena


De mim!





Quem dera


Que sintas


As dores


De amores


Que louco


Senti!


Quem dera


Que sintas!...


— Não negues,


Não mintas...


— Eu vi!...





Valsavas:


— Teus belos


Cabelos,


Já soltos,


Revoltos,


Saltavam,


Voavam,


Brincavam


No colo


Que é meu;


E os olhos


Escuros


Tão puros,


Os olhos


Perjuros


Volvias,


Tremias,


Sorrias,


P'ra outro


Não eu!





Quem dera


Que sintas


As dores


De amores


Que louco


Senti!


Quem dera


Que sintas!...


— Não negues,


Não mintas...


— Eu vi!...





Meu Deus!


Eras bela


Donzela,


Valsando,


Sorrindo,


Fugindo,


Qual silfo


Risonho


Que em sonho


Nos vem!


Mas esse


Sorriso


Tão liso


Que tinhas


Nos lábios


De rosa,


Formosa,


Tu davas,


Mandavas


A quem ?!





Quem dera


Que sintas


As dores


De amores


Que louco


Senti!


Quem dera


Que sintas!...


— Não negues,


Não mintas,..


— Eu vi!...





Calado,


Sozinho,


Mesquinho,


Em zelos


Ardendo,


Eu vi-te


Correndo


Tão falsa


Na valsa


Veloz!


Eu triste


Vi tudo!





Mas mudo


Não tive


Nas galas


Das salas,


Nem falas,


Nem cantos,


Nem prantos,


Nem voz!





Quem dera


Que sintas


As dores


De amores


Que louco


Senti!





Quem dera


Que sintas!...


— Não negues


Não mintas...


— Eu vi!





Na valsa


Cansaste;


Ficaste


Prostrada,


Turbada!


Pensavas,


Cismavas,


E estavas


Tão pálida


Então;


Qual pálida


Rosa


Mimosa


No vale


Do vento


Cruento


Batida,


Caída


Sem vida.


No chão!





Quem dera


Que sintas


As dores


De amores


Que louco


Senti!


Quem dera


Que sintas!...


— Não negues,


Não mintas...


Eu vi!

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