O
REI REINA E NÃO GOVERNA
(Apólogo,
Tobias Barreto de Meneses)
Não
sei porque a língua humana
Os
brutos não falam mais,
Quando
hoje têm melhor vida,
E
há muita besta instruída
Nas
ciências sociais...
Ultimamente
entenderam
Que
tinham também razão
De
proclamar seus direitos
Pondo
em uso os bons efeitos
Que
trouxe a Revolução...
"Seja
o leão, diz o asno,
Um
rei constitucional:
Com
assembleias mudáveis,
Com
ministros responsáveis,
Não
nos pode fazer mal.
Fiquem-lhe
as garras ocultas,
Não
ruja, não erga a voz,
Conforme
a tese moderna
Qu'ele
reina e não governa,
Quem
governa somos nós...
Todas
as bestas da terra,
Todas
as bestas do mar
Tenham
os seus delegados,
Sendo
os ministros tirados
Do
seio parlamentar..."
"Muito
bem! grita o macaco,
A
gente vai ser feliz!
Respeito
a ciência alheia;
Publicista
de mão cheia,
O
burro sabe o que diz.
Todavia,
acho difícil
Que
Dom Leão rugidor,
Sujeito
à sede e à fome,
Queira
ter somente o nome
De
rei ou de imperador!...
Acostumado
a pegar-nos
Com
suas patas reais,
Calar-se,
fingir-se fraco!...
Segundo
penso eu... macaco...
Dom
Leão não pode mais!"
Acode
o asno: "Eu lhe explico,
Nada
vai a objeção:
Se
o rei viola o preceito,
Salvo
nos fica o direito
De
fazer revolução".
"Mestre
burro, isto é asneira,
Palavrão
de zurrador,
Esse
direito é fumaça,
De
que nos serve a ameaça,
Quando
nos falta o valor?
Só
vejo, que bem nos quadre
No
trono, algum animal,
Que
coma e viva deitado:
O
porco!... Exemplo acabado
De
rei constitucional..."