sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TU E EU
(Luis Fernando Veríssimo)

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
En não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu, fão.
Eu, fônico.

És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.

És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.

Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo.

domingo, 23 de outubro de 2011

GREVE DE AMOR
(Aurenice Vítor)

Meu coração entrou em greve.
Não quer amar.
Bati piquete do lado de fora
Do seu coração,
Não adianta diminuir meu salário,
Não volto!!!
Não adianta cortar meus dias...
Não volto!!!

Meu coração está em greve,
Está cansado de tudo:
Das noites de insônia,
De pensar em você,
De dar plantão sem remuneração,
De amar sozinho,
De sonhar sozinho,
De querer sozinho...

Meu coração está desistindo
Da vida dura, da falta constante,
Do desejo não realizado.
Meu coração já desistiu
Da sua presença aqui do meu lado.

Meu coração entrou em greve!...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

CANTIGA PARA NÃO MORRER
(Ferreira Gullar)

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

DIA DAS CRIANÇAS
(Joésio Menezes)

Hoje é dia das crianças,
Não tenho o que comer...
E não mais tenho esperança
De o mundo resolver
Os problemas que a fome
Traz aos que não têm nome
E nem sequer onde morrer.

Hoje é dia das crianças,
Não quero brinquedo não!
Não quero vida mansa
Nem ostentar um brasão.
O que quero nessa vida
É só um prato de comida
Pra alimentar meus irmãos!...

Hoje é dia das crianças
E nada tenho a festejar,
Pois recebi de herança
Alguns irmãos pra cuidar...
E no auge da minha infância
Convivo com a arrogância
Dos que podem nos ajudar.

Hoje é dia das crianças...
Desejo-lhes felicidade,
Que vivam na bonança
Sem qualquer tempestade.
Para mim, quero somente
É ter uma vida decente
E viver com dignidade.

domingo, 9 de outubro de 2011

TUA AUSÊNCIA
(Vivaldo Bernardes)


- à Teresinha -

Parece que foi ontem que partiste,
entanto cinco anos se passaram
e o choro nos meus olhos inda insiste
nos anos transcorridos que te olharam


As lágrimas que choro, copiosas
bem dizem,desta dor que me espanta
e molham teu retrato, dolorosas,
manchando tua imagem que me encanta.

As lágrimas sentidas já me cegam,
saudades com o tempo mais se apegam
e sei que não virás me consolar.

Mas sei que terá fim a tua ausência,
pois sinto o desenlace em iminência,
formando nós um doce e novo lar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

SEM HOMOFOBIA
(Rosa Pena, www.rosapena.com)

Amarrado num canto
de cabeça para baixo.
Que espanto!
Fitas coloridas enlaçam...
O pedido: Um cabra macho.

Banho de ervas
feitiço pelo cheiro.
Serve qualquer cavalheiro.
Tanto faz bonito ou feio.
No pastel o que vale
é o big recheio.

Ó bendito Antônio!
Olha com simpatia
para essas titias.
Junho foi o seu mês.
Passou com rapidez
As mulheres?
Em jejum.

Será que você virou
padroeiro dos gays?
Droga de armário!
Todo dia sai mais um.
Fêmea virou secundário.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

CORPOS NUS
(Joésio Menezes)


Despe-te do vestido furta-cor
E deixa teu corpo sentir o meu.
Prometo-te despir-me do pudor
E deleitar-me sob o fogo teu.

Permita-me conhecer o furor
Do teu cio, cujo cheiro acendeu
Em mim um fogaréu abrasador,
Capaz de levar-me ao apogeu.

Dá-me o prazer de contigo estar
E permita-me, também, desfrutar
Tudo que ao deleite nos conduz...

E bem no clímax da excitação,
Nossos gemidos se transformarão
Numa ode aos nossos corpos nus.